Dito no Jornal do Centro durante este ano da peste*

* Hoje no Jornal do Centro aqui

 


3/Janeiro

À rebeldia eurofóbica de uma parte da política britânica das últimas décadas, que culminou no referendo de 2016, seguir-se-á agora uma rebeldia eurofílica e verde que não vai deixar de lutar pelo seu futuro nas ruas. 


17/Janeiro

A plataforma “Já Marchavas”, um dos heterónimos do Bloco de Esquerda de Viseu, informou no seu site que andou a colocar nalgumas estátuas da cidade “mensagens de repúdio à violência que vitimou o [cabo-verdiano] Giovani”.

A “Já Marchavas”, apesar de confessar não saber “se o facto da vítima ser racializada inferiu na brutalidade das agressões”, mesmo assim, pôs um cartaz na estátua de Camões a dizer: “Giovani — Tristes Brancos Costumes”.

Aquele “racializada” é um eufemismo muito usado pelos identitários que vêem cores de pele onde há pessoas. Aquele “inferiu” é uma gralha, acontece a todos. Já aquele cartaz é mesmo um nojo racista.


24/ Janeiro

O governo anda há anos a mentir aos viseenses sobre a renovação das Urgências do Hospital de S. Teotónio e a construção do Centro Oncológico.


21/ Fevereiro

Esta moda que quer, por tudo e por nada, atirar o código penal contra os ditos “discursos de ódio” é errada e contraproducente. 

É errada porque um mau argumento combate-se com um bom argumento e é contraproducente porque tentar censurar más ideias só serve para lhes dar visibilidade e torná-las um “fruto proibido”.


2/Maio

Os dinheiros que hão-de vir da “Europa” vão ser controlados pelas burocracias, os rentistas e as clientelas. A Covid-19 empobreceu-nos, tirou-nos liberdade e pôs-nos ainda mais dependentes do Estado. 

Esta pobreza e dependência vai ser um paraíso para os populistas de esquerda e de direita.


9/Maio

Durante o período mais crítico da Covid-19, o presidente da câmara de Viseu foi um zombie político. 


6/Junho

Políticos e empresários, médicos e epidemiologistas, pastores evangélicos e bispos católicos, colunistas direitolas do Observador e escribas politicamente correctos do Público, autarcas em jornais locais e brasileiras em reportagens televisivas, maluquinhos das teorias conspirativas e especialistas instantâneos do Facebook, é tudo a bombar, é tudo a habitar neste planeta estranho chamado “novo normal”. 


13/Junho

O Ocidente já descolonizou há muitas décadas mas subsistem querelas sobre o seu passado colonial. 

É uma febre que se grudou a uma putativa “culpa do homem branco”, real ou imaginária, e que ora sobe, ora desce, mas não passa. Agora está outra vez a precisar de paracetamol.


27/Junho

As máscaras são um mercado imenso. Vão dar muito dinheiro. O bicho corono conseguiu aquilo que os barbudos aiatolas nunca conseguiram. 

Chusmas de empreendedoristas (como se diz em economês), resmas de trafulhas, nuvens de criativos, está tudo na corrida para nos tapar a cara. 


1/Agosto

Este ano, no querido mês de Agosto, por causa da Covid-19, muitos emigrantes vão ficar nos países onde trabalham. 

Isso é péssimo, uma tristeza, embora possa alegrar alguns urbanitas parolos que os chamam “aveques”. 


29/Agosto

Na sua vida privada, os políticos devem poder conversar à vontade e em vernáculo, devem poder ter nódoas na gravata ou tirar macacos no nariz quando param num semáforo. 

Devem poder ser humanos.


19/Setembro

Entre nós, a palavra inglesa “whistleblower” (soprador-no-apito) costuma ser traduzida por “denunciante”, designação curta, poucochinha, se aplicada a Rui Pinto ou Edward Snowden. 

É que eles, quando botaram a boca no trombone, causaram sismos e cismas globais.


26/Setembro

As pessoas passam cada vez mais tempo no WC, com os seus telemóveis e tablets, a produzirem e partilharem bosta na internet, como aquela invenção de que se forma um “nível tóxico” de CO2 dentro das máscaras que estamos a usar. 

Fake news tornadas virais por lelés-da-cuca sentados em sanitas.


3/Outubro

Não era melhor os “dinossaurums-veteranorums” irem praxar a tia deles?


14/Novembro

Pensemos neste cenário que poderá replicar-se em muitos órgãos municipais e de freguesia por esse país fora: e se, nas próximas eleições para a câmara de Viseu, o PSD fica com quatro lugares, o PS com quatro e o Chega com um? O PSD-Viseu imita o PSD-Açores?


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Os Olhos de Gato publicados no Jornal do Centro podem ser lidos aqui neste blogue clicando na etiqueta Jornal do Centro.

Segue-se a primeira leitura para esta selecção de fim-de-ano que, depois, foi devidamente tesourada para os ±4000 caracteres acima que foram publicados hoje no Jornal do Centro.


3/Janeiro

À rebeldia eurofóbica de uma parte da política britânica das últimas décadas, que culminou no referendo de 2016, seguir-se-á agora uma rebeldia eurofílica e verde que não vai deixar de lutar pelo seu futuro nas ruas. 


10/Janeiro

Defendi aqui o presidente da câmara de Santa Comba Dão quando ele foi vítima da má-fé e das mentiras de alguns “antifascistas” durante a recente polémica sobre o “Centro Interpretativo do Estado Novo”.

Já o autarca ter trazido para aquela linda terra beiroa uma estátua de Salazar que estava no Palácio Foz, em Lisboa, não tem defesa possível. 

Caro Leonel Gouveia, vou dizer-lhe em autarquês esta coisa muito simples: o “botas” não é um bom “produto endógeno” do seu concelho, o ditador salazarento é um detrito histórico cujo bronze devia devolver, o mais depressa possível, aos alfacinhas.


17/Janeiro

A plataforma “Já Marchavas”, um dos heterónimos do Bloco de Esquerda de Viseu, informou no seu site que andou a colocar nalgumas estátuas da cidade “mensagens de repúdio à violência que vitimou o [cabo-verdiano] Giovani”.

A “Já Marchavas”, apesar de confessar não saber “se o facto da vítima ser racializada inferiu na brutalidade das agressões”, mesmo assim, pôs um cartaz na estátua de Camões a dizer:  “Giovani — Tristes Brancos Costumes”.

Aquela “racializada” é um eufemismo muito usado pelos identitários que vêem cores de pele onde há pessoas. Aquele “inferiu” é uma gralha, acontece a todos. Já aquele cartaz é mesmo um nojo racista.


24/ Janeiro

2. O governo anda há anos a mentir aos viseenses sobre a renovação das Urgências do Hospital de S. Teotónio e a construção do Centro Oncológico.

Sábado, 25 de Janeiro, às 15H30, no Rossio de Viseu, é tempo para nos começarmos a manifestar pelo fim das empaliações e o começo das obras.



31/ Janeiro

Viseu continua a ser tratado como um filho de um deus menor. Para já, vamos assinar a petição online “Pelas Obras na Urgência e Centro Oncológico no Hospital de Viseu” e vamos esperar que o governo faça a sua obrigação. 

Quem não fez a sua obrigação foram os vereadores socialistas da câmara de Viseu. Não estiveram na manifestação. Desprezaram a saúde dos viseenses. Isso não é nada bom para a saúde eleitoral socialista nas próximas autárquicas.

21/Fevereiro

O novo governo espanhol quer penalizar as “apologias do franquismo”. Não surpreende: a dupla Sánchez/Iglesias vai usar tudo o que puder para embaraçar a direita. 

Só que, infelizmente, esta moda que quer, por tudo e por nada, atirar o código penal contra os ditos “discursos de ódio” é errada e contraproducente. É errada porque um mau argumento combate-se com um bom argumento e é contraproducente porque tentar censurar más ideias só serve para lhes dar visibilidade e torná-las um “fruto proibido”.


28/Fevereiro

Desta vez, Sanders está a alargar a sua base de apoio afro-americana (que lhe foi hostil há quatro anos) e, sem surpresa, mantém um elevado apoio entre os jovens. 

É que a precariedade e os baixos salários puseram os jovens de novo na dependência dos pais. Para eles não há liberdade no mercado neoliberal, para eles a esperança de liberdade pessoal reside no Estado. Por isso, dois em cada três eleitores com menos de 30 anos que acorreram às primárias do Nevada votaram no “socialismo” do velho Bernie.


6/Março

Como explica Gilles Lipovetsky, o homem contemporâneo, a que ele chama hipermoderno, é um hedonista com problemas de consciência. Embora viva angustiado com a doença, a velhice, a ecologia, não deixa de viver o momento. O homem hipermoderno carpedia na sua cápsula individualista enquanto tira selfies.


13/Março

No carnaval, enquanto a ex dele publicava no Facebook fotografias do seu novo morcão de máscara cirúrgica na Praça de S. Marcos, ele instagramou fotografias da filha ao lado de vários caretos de Lazarim. Tão bom aquele entrudo castiço, os compadres a chamarem fressureiras às comadres e estas a duvidarem da força na verga deles. 


20/Março

O nosso “viver habitualmente” foi-se. Enquanto tentamos que vire rotina toda esta desrotina (mantém-a-distância!, lava-as-mãos!, não-toques-na-cara!, desinfecta-te!, desinfecta!), partilhamos nas redes sociais memes e vídeos cheios de rolos de papel higiénico. Porque rir exorciza o medo.


18/Abril

No seu monumental “Lápide - A Grande Fome Chinesa, 1958-1962”, o veterano jornalista Yang Jisheng, depois de ter acedido a arquivos secretos do partido comunista chinês, calcula que tenham morrido à fome 36 milhões de chineses.

O desespero fez com que os chineses comessem tudo o que mexia. O livro faz relatos terríveis de técnicas para apanhar ratos, de episódios generalizados de canibalismo.

Foi esta fome trágica que fez nascer na China o mercado de animais selvagens. Essa actividade acabou por sobreviver até aos nosso dias, agora já não para matar a fome dos pobres mas para dar resposta a uma procura “gourmet” (chamemos-lhe assim) de ricos. 

Foi num mercado desses animais, em Wuhan, que o actual SARS-CoV-2 terá migrado para os humanos.


25/Abril

Já se sabe, temos de continuar a manter “distância social”, mas isso dói-nos. É anti-humano. É contra-natura. Nós, os sapiens, somos gregários, pelamo-nos por multidões, adoramos ajuntamentos — exactamente aquilo que agora não podemos nem devemos fazer. 


2/Maio

Os dinheiros que hão-de vir da “Europa” vão ser controlados pelas burocracias, os rentistas e as clientelas. A Covid-19 empobreceu-nos, tirou-nos liberdade e pôs-nos ainda mais dependentes do Estado. 

Esta pobreza e dependência vai ser um paraíso para os populistas de esquerda e de direita.


9/Maio

Durante o período mais crítico da Covid-19, o presidente da câmara de Viseu foi um zombie político. 

Informação ao munícipes sobre o evoluir das infecções no concelho? Zero.

Preço da água das famílias? Euros de aumento, cêntimos de desconto.

Testes nos lares? Só depois de um empurrão do governo e da CIM.

Máscaras? Prometidas estão, mas por enquanto as pessoas que se desenrasquem.

Os viseenses não podem contar com o município quando a adversidade lhes bate à porta. Os actuais inquilinos do Rossio só se mexem para festas e festinhas.


16/5

Enquanto a esperança de vida aumenta em todo o lado, nos EUA, entre 1999 e 2013, houve “uma subida da mortalidade no seio da população branca com idades compreendidas entre 45 e 54 anos”, cujas causas “são claramente de ordem psico-social: envenenamentos, alcoolismo e suicídio”. “Os condados directamente afectados pela concorrência chinesa no plano industrial viram a sua taxa de mortalidade aumentar”, sendo “o suicídio mais do que o envenenamento” a causa principal deste aumento de letalidade. 

Não admira que estas pessoas — a quem a sobranceria de Hillary Clinton chamou  “deploráveis” — tenham votado no isolacionismo de Trump. 

O candidato democrata Joe Biden precisa de ter respostas políticas que tragam esperança a estes “vencidos da globalização” se quiser ganhar em Novembro.


23/Maio

Ora, como os desgraçados incêndios de 2017 nos mostraram, o mato mata. Por isso, o governo impõe que ele seja limpo à volta das casas até 15 de Março. 

Problema: este prazo é estúpido. Cortado tão cedo ele torna a crescer outra vez antes que chegue a época dos incêndios.

Este ano, por causa da Covid-19, o prazo foi prolongado até ao fim de Maio. Foi uma decisão sensata. A peste que se vá de vez. E o novo prazo que fique.


6/Junho

Passámos todos a perscrutar nos gráficos o “pico” e o “planalto” das infecções, estudámos o negócio dos “respiradores” e dos “equipamentos de protecção individual”, “higienizámos” superfícies, fizemos “etiqueta respiratória”, “confinámo-nos” de controlo-remoto na mão, só saindo para despejar o lixo e passear o cão. E agora, aos poucos, estamos a “desconfinar” enquanto remoemos, com desagrado, o  “Rt” em “Lisboa e Vale do Tejo”.

Como se vê, a epidemia infectou também o nosso falar e, neste novo dialecto, nenhuma expressão ganhou um relevo tão grande como “novo normal”. Políticos e empresários, médicos e epidemiologistas, pastores evangélicos e bispos católicos, colunistas direitolas do Observador e escribas politicamente correctos do Público, autarcas em jornais locais e brasileiras em reportagens televisivas, maluquinhos das teorias conspirativas e especialistas instantâneos do Facebook, é tudo a bombar, é tudo a habitar neste planeta estranho chamado “novo normal”. 

Não se julgue que isto é monopólio nosso.


13/Junho

O Ocidente já descolonizou há muitas décadas mas subsistem querelas sobre o seu passado colonial. É uma febre que se grudou a uma putativa “culpa do homem branco”, real ou imaginária, e que ora sobe, ora desce, mas não passa. Agora está outra vez a precisar de paracetamol. Estão a ser atacados símbolos coloniais em vários países. A polícia do Reino Unido já lhe chama “batalha das estátuas”.


20/Junho

Indiferentes a estas inquietações e pulsões dos humanos, as tílias cumprem a sua vocação, como se diz num poema do viseense João Luís Oliva: “cheirar a tília é, afinal, o destino inexorável das tílias...” (Não se estranha a referência daquele amigo querido, cidadão do mundo, nascido na cidade das tílias.)

As tílias nunca nos falham. Por alturas do solstício estão no seu perfume máximo. Mesmo neste ano desgraçado de 2020, o seu aroma consegue pituitar-nos através das máscaras cirúrgicas e das máscaras sociais, com griffe ou sem griffe.


27/Junho

Toda a gente agora precisa de máscara e temos de aprender a reconhecermo-nos uns aos outros só através dos olhos.

No mercado dos afectos, uns olhos bonitos agora fazem toda a diferença. O nariz, o desenho da boca, os dentes, já não são tão importantes. Há um meme que circula nas redes sociais que explica muito bem este “novo normal”. É um casal de namorados num banco de jardim; ele para ela: «mostra-me o nariz»; ela para ele: «só depois de casarmos». 

As máscaras são um mercado imenso. Vão dar muito dinheiro. O bicho corono conseguiu aquilo que os barbudos aiatolas nunca conseguiram. Chusmas de empreendedoristas (como se diz em economês), resmas de trafulhas, nuvens de criativos, está tudo na corrida para nos tapar a cara. 


4/Julho

Quem tem estado atento à pulsão censória do identitarismo não estranha este caminho. Este ataque à liberdade de expressão evoluiu do clássico "o-que-tu-dizes-ofende-me" (e muita gente de bem, para evitar chatices, pediu desculpa) para "o-que-tu-dizes-ofende-me-portanto-cala-te" (e muita gente de bem, para evitar chatices, calou-se). Agora os chuis da linguagem, no poder ou com influência no poder, subiram a parada e ameaçam: "o-que-tu-dizes-ofende-me-cala-te-ou-és-castigado".


11/Julho

Há quinze anos, ainda havia telefones agarrados por um fio a uma parede. Agora não. 

Isto é bom, isto é mau. Depende. Isto dá mais liberdade, isto dá menos liberdade. Depende.

É bom porque trazemos no bolso a omnisciência do sr. Google, é mau porque o nosso chefe pode contactar-nos a qualquer hora.

Dá mais liberdade porque não precisamos de estar perto da parede que tem o fio do telefone. Dá menos liberdade porque o cônjuge e o colega-melga começam todos os telefonemas com um "onde tás?"



25/Julho

Ninguém acredita mais no "benigno" hacker que se introduz nos computadores dos poderosos, como Robin Hood fazia na floresta de Sherwood para tirar aos ricos para dar aos pobres. Tudo isso se esfumou na actual ecologia anti-centífica e anti-factual das redes sociais, onde medram fake-news e tribalização identitária.



As recentes eleições distritais no PS-Viseu destaparam um potencial sarilho em Resende. 

O actual presidente da câmara, Garcês Trindade, ainda pode ir mais uma vez a votos nas próximas autárquicas. Só que o anterior líder distrital, o poderoso resendense António Borges, não o quer mais à frente do município.


1/Agosto

Este ano, no querido mês de Agosto, por causa da Covid-19, muitos emigrantes vão ficar nos países onde trabalham. Isso é péssimo, uma tristeza, embora possa alegrar alguns urbanitas parolos que os chamam “aveques”. 


Antes de ir de férias, o parlamento aprovou o fim dos debates quinzenais com o primeiro-ministro. 

Esta marcha-atrás antidemocrática, cozinhada entre António Costa e Rui Rio, mereceu a oposição de 28 deputados do PS e 7 do PSD. Infelizmente, nenhum deles do distrito de Viseu. 

Os oito deputados eleitos pelos viseenses votaram pelo fim dos debates quinzenais. Oito caranguejos. Oito atrasos-de-vida. Fica registado.


15/Agosto

Maria de Fátima Araújo Reis — irmã da deputada do PS, presidente da Concelhia de Viseu e vereadora na Câmara, Lúcia Araújo Silva — acaba de ser nomeada  directora regional do centro do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas.

Este “tudo em família” só serve para facilitar a vida aos populistas e aumentar a descrença das pessoas na política.


22/Agosto

Em 1987, o país estava pacificado depois dos ardores do PREC. Alguns poucos nostálgicos da revolução ainda encharcavam o fígado enquanto punham o "FMI", de José Mário Branco, a dar 33 voltinhas por minuto no gira-discos, mas o povão não tinha dessas nostalgias. Enquanto dava maiorias a Cavaco, organizava excursões para ir ao Continente de Matosinhos, o primeiro do país, onde gastava em média dez contos de reis por compra.


Em 1987, longe, muito longe de Matosinhos, Viseu ia puxando pelos Renaults 5 e os Fiats 127 nas subidas dos novos troços do IP5 que iam sendo inaugurados naqueles tempos de optimismo cavacal. Viseu era, e foi-o durante muitos anos, o cavaquistão. Conservador, beato. Públicas virtudes, vícios privados. 


29/Agosto

Na sua vida privada, os políticos devem poder conversar à vontade e em vernáculo, devem poder ter nódoas na gravata ou tirar macacos no nariz quando param num semáforo. Devem poder ser humanos.

"A vida pública é insustentável sem vida privada. É impossível governar, mesmo para o melhor dos democratas, sem a possibilidade de ter conversas discretas. Os únicos políticos invulneráveis à exposição são aqueles que controlam os segredos dos outros, ou aqueles cujo comportamento explícito é tão vergonhoso que são invulneráveis à chantagem. (...) Ao aceitarem que as vidas privadas das figuras públicas também são política, os cidadãos cooperam na destruição da esfera pública", lembra Timothy Snyder, no seu livro "Rússia, Europa, América - O Caminho Para o Fim da Liberdade".





12/Setembro

No início de um comunicado divulgado na quinta-feira à noite, a câmara de Viseu reconheceu que já há transmissão comunitária do novo corona vírus no concelho, mas aquele documento tem muita conversa sobre o Cubo Mágico e nenhuma informação concreta sobre a Covid 19.

Quantos casos? Quantos internamentos? Quantos doentes nos cuidados intensivos? Quantos em quarentena? Quantos testes? Que se passa nos lares?

A câmara sabe, mas não informa os munícipes. Não tem perdão.




19/Setembro

Entre nós, a palavra inglesa “whistleblower” (soprador-no-apito) costuma ser traduzida por “denunciante”, designação curta, poucochinha, se aplicada a Rui Pinto ou Edward Snowden. É que eles, quando botaram a boca no trombone, causaram sismos e cismas globais. 

Para além das revelações sobre os negócios do futebol, o hacker português, com as suas Luanda Leaks, acelerou a ruptura entre o presidente angolano João Lourenço e o clã José Eduardo dos Santos. Para além disso, obrigou à higienização do capital de várias empresas portuguesas, num processo ainda em curso que está a consumir quantidades enormes de álcool-gel e produtos para branquear as cumplicidades lusas com Isabel dos Santos.


26/Setembro

É que as pessoas passam cada vez mais tempo no WC, com os seus telemóveis e tablets, a produzirem e partilharem bosta na internet, como aquela invenção de que se forma um “nível tóxico” de CO2 dentro das máscaras que estamos a usar. Fake news tornadas virais por lelés-da-cuca sentados em sanitas.


3/Outubro

Não era melhor os “dinossaurums-veteranorums” irem praxar a tia deles?


10/Outubro

A partir de 9 de Março de 2021, vamos deixar de ter um sacristão e passar a ter um presidente. Que, como se sabe, gosta tanto de intriga como de vichyssoise.

É por todo este histórico que a direita, apesar de zangada com Marcelo, se for inteligente vota nele. E que a esquerda socialista, apesar de contentíssima com Marcelo, se for inteligente vota Ana Gomes.


17/Outubro

Que se passa na cabeça do primeiro-ministro? Que lhe está a acontecer neste ano da peste? Foi o corte nos debates quinzenais no parlamento. Foi preferir um boy para a Procuradoria Europeia em vez da primeira classificada, Ana Carla Almeida, que tinha investigado as trafulhices do PS na Protecção Civil. Foi o despedimento de Vítor Caldeira do Tribunal de Contas, depois deste ter criticado a forma como o governo quer gastar a bazuca europeia. Agora isto.

Como é sabido, António Costa tem uma boa relação pessoal com o húngaro Viktor Mihály Orbán. Isso é bom. As pessoas darem-se bem é bom. Mas já não é bom o primeiro-ministro português estar a imitar políticas musculadas à moda do autocrata húngaro. 


31/Outubro

Há quatro anos, ganhou a América dos vencidos da globalização, perdeu a América cosmopolita. O que derrotou Hillary Clinton não foi a banha-da-cobra da Cambridge Analytica nem o Facebook, o que a derrotou foi o sofrimento dos brancos com baixa-escolaridade que viram os seus empregos na indústria voarem para países de mão-de-obra barata como a China. 

Depois de eleito, Trump abriu guerra a Xi Jinping e entregou três anos de bons resultados económicos à sua base de apoio. O presidente preparava-se para uma reeleição tranquila até que foi atropelado pela Covid. A sua gestão da pandemia foi uma desgraça, os Estados Unidos estão a entrar na terceira vaga, é o país com mais infecções e mais mortes.  

Resultado: a acreditar nas sondagens, os velhos vão castigar a catástrofe sanitária causada pela incompetência de Trump. E correr com ele.


7/Novembro

Por causa da Covid, este ano vão ser feitas menos um milhão e meio de consultas e menos 152 mil cirurgias do que em 2019. 

Dito assim é uma abstracção. Passa a ser muito concreto se pensarmos no que aqueles números representam: sofrimento, angústia, medo, perda de qualidade de vida, especialmente dos nossos concidadãos mais pobres que não têm seguros de saúde.

Senhora ministra, nesta emergência que estamos a viver, esqueça os seus preconceitos ideológicos. Lembre-se que a China, numa geração, foi levada do século XIX para o século XXI por esta ideia simples de Deng Xiaoping: “não importa se o gato é preto ou branco, desde que cace os ratos." 

A senhora não gosta dos gatos pretos, mas precisamos também que os ponha a matar ratos. Faça isso. Só precisa de ter um cuidado: não dê mais ração aos gatos pretos privados do que está a dar aos gatos brancos públicos.


14/Nov

A formação do novo governo regional dos Açores, com o apoio parlamentar do Chega, abriu uma celeuma muito grande sobre “cercas sanitárias” àquele partido populista e identitário de direita.  

Ora, como já falta menos de um ano para as autárquicas, pensemos neste cenário que poderá replicar-se em muitos órgãos municipais e de freguesia por esse país fora: e se, nas próximas eleições para a câmara de Viseu, o PSD fica com quatro lugares, o PS com quatro e o Chega com um? O PSD-Viseu imita o PSD-Açores?


21/Novembro

Taiwan tem uma rede de cem pessoas para responder, em poucas horas, a qualquer boato ou lixo anti-científico que esteja a viralizar nas redes sociais. E isso é feito com memes engraçados.

Era bom termos cá algo parecido. A ver se diminuía a reprodução de covidiotas.


12/Dezembro

Nos loucos anos vinte de há cem anos, as mulheres começaram a usar calças e a diminuir o comprimento das saias. Agora, nestes loucos anos que aí vêm, pelo que se tem visto nos desfiles de moda e até nos passos perdidos da assembleia da república, os homens, além de calças, vão também começar a usar saias.

Isso não tem mal nenhum, claro. Embora, e peço perdão às leitoras por este meu ponto de vista, passe a haver alguma poluição estética nas avenidas e nas alamedas quando eles aparecerem com saias acima do joelho.

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