Ainda é cedo para dizer*

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1. Ao contrário da peste negra do século XIV que levou ao fim do feudalismo, a pneumónica de 1918-20 não alterou em nada o devir histórico. Não foi ela que começou a erosão dos estados-nação europeus. Isso foi feito primeiro pela bota militar nazi e, depois da queda de Hitler, prosseguiu com a integração comunitária no ocidente e com o império soviético no leste.

A seguir à queda do muro de Berlim, em 1989, o esbatimento de fronteiras e a integração mundial acelerou fortemente, com uma cada vez maior circulação de mercadorias, capitais, pessoas e ideias. 

A interligação entre os humanos é agora muito fácil porque eles funcionam com algoritmos comuns: não há diferença nenhuma funcional entre um aeroporto em Xangai ou em S. Paulo, entre usar um Uber em San Francisco ou em Buenos Aires, entre reservar um alojamento na Tunísia ou nos Alpes. 

Até ter começado a peste actual, a globalização estava a correr bem, conforme descrito aqui há dois anos: “há uma pessoa a escapar da pobreza extrema em cada segundo, enquanto, no mesmo segundo, cinco pessoas entram na classe média. Os ricos estão a aumentar também, mas a um ritmo menor (um em cada dois segundos).” 

Como esta classe média é predominantemente asiática (nove em cada dez), os media e as universidades no ocidente fazem uma narrativa ressentida e não-factual do que está a acontecer no mundo. 

Uma coisa é certa, como explicam os marxistas Michael Hardt e Antonio Negri, em “Império”, os dois motores da globalização são obra do espírito europeu: as luzes (o método científico) e o capitalismo (a criação de riqueza). 



Regressando ao princípio: como vimos, a peste negra mudou a história, a pneumónica não. Se a Covid-19 vai alterar, ou não, o curso da globalização ainda é cedo para dizer. 


2. A formação do novo governo regional dos Açores, com o apoio parlamentar do Chega, abriu uma celeuma muito grande sobre “cercas sanitárias” àquele partido populista e identitário de direita.  

Ora, como já falta menos de um ano para as autárquicas, pensemos neste cenário que poderá replicar-se em muitos órgãos municipais e de freguesia por esse país fora: e se, nas próximas eleições para a câmara de Viseu, o PSD fica com quatro lugares, o PS com quatro e o Chega com um? O PSD-Viseu imita o PSD-Açores

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