Desenfrentamentos *

* Publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 17 de Dezembro de 2010


No seu “Portugal, Hoje: O Medo de Existir”, o filósofo José Gil faz uma fuga de informação, uma “leak” ao melhor estilo Assange. Conta ele que uma diplomata francesa que viveu muitos anos na China e outros tantos em Portugal diz que os portugueses são os “chineses do Ocidente” porque, enquanto “os chineses nunca vão directamente ao assunto”, os portugueses “percorrem espirais, caminhos ínvios e barrocos até abordarem a questão”.  

Basta ter lido Sun Tzu para se perceber que o saber milenar chinês evita o enfrentamento directo.  

Por cá, já se sabe, ninguém se quer incomodar. É tudo manso, até a tia de Louçã. Para não falar na suavidade dos jornalistas, tão bem percebida por Cavaco. Ou, em Viseu, da “oposição” nem-sim-nem-não-antes-pelo-contrário que calhou ao dr. Ruas depois da deserção de Miguel Ginestal.     

Mas, deixemo-nos de “espirais”, e cheguemo-nos ao ponto, aliás, aos pontos que têm a ver com a última ida de Teixeira dos Santos à China.

O ponto chinês: a China tem 2,45 biliões de dólares de reservas em divisas estrangeiras e não pode ter todos os ovos no mesmo cesto (entenda-se, o dólar como valor de refúgio já teve melhores dias). O facto é que este ano a China está a comprar muito mais euros e ienes e os restantes tigres asiáticos estão também a seguir-lhe o exemplo.

O ponto português: no primeiro semestre de 2011, Portugal precisa de “rolar” dívida antiga no valor de 19,2 mil milhões de euros e contrair dívida nova de 6 mil milhões. Ao todo são 15% do PIB, mais coisa menos coisa. Muito dinheiro. E dinheiro cada vez mais caro.


Teixeira dos Santos agora já só deseja boas-festas aos “suaves” jornalistas portugueses. 

Espera-se que, em Pequim, tenha ido ao assunto. Com prudência chinesa e mansidão lusa.
Em 2011 se verá.


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