O novo, o velho e o tempo*

* Hoje no online do Jornal do Centro

1. O Ocidente já descolonizou há muitas décadas mas subsistem querelas sobre o seu passado colonial. É uma febre que se grudou a uma putativa “culpa do homem branco”, real ou imaginária, e que ora sobe, ora desce, mas não passa. Agora está outra vez a precisar de paracetamol. Estão a ser atacados símbolos coloniais em vários países. A polícia do Reino Unido já lhe chama “batalha das estátuas”.

Mas olhemos para além da febre dos dias. O que fez esta semana decapitar a cabeça de uma estátua de Cristóvão Colombo, em Boston, não é diferente do que fez explodir, em 2001, os Budas de Bamiyan, no Afeganistão, e não foi o conflito colonial. O que deu origem àqueles dois casos é uma lei humana implacável: o novo quer substituir o velho, ou a bem ou a mal. Quando é a bem costuma chamar-se-lhe “progresso”, mesmo que cause muito mal. Quando é a mal, como em Boston e no Afeganistão, chama-se-lhe barbárie.

Nada, nenhuma estátua, nenhuma fortaleza, nenhuma casa, nada vai sobreviver à acção destrutiva do novo e do tempo. Quando não é o novo a aniquilar o velho, o devir implacável dos anos e dos séculos faz esse serviço.

O novo e o tempo ganham sempre. E só há duas maneiras de lhes atardar a vitória — através da memória e do trabalho. Lembrar e trabalhar são o calhau que o homem/Sísifo está condenado a arrastar pelo monte do tempo acima.

Bairro da Cadeia — Viseu
Fotografia de Fernando Rodrigues
Já uma vez escrevi isto aqui, quando Fernando Ruas quis mas não chegou a ter tempo para demolir um bairro de casas pequenas junto à cadeia de Viseu.

Depois, como António Almeida Henriques apostou tudo no “imaterial”, aquelas casinhas acabaram por resistir. Isso foi bom. Pelo menos para já, foi adiado o que a barbárie do “progresso” ou a ruína do tempo lhes há-de fazer.

2. A forte candidatura socialista de João Azevedo à câmara de Viseu só acontece porque já é evidente para toda a gente o fiasco dos sete festivos anos de “política imaterial” do actual presidente.

O próprio António Almeida Henriques já percebeu esse falhanço e mudou de conversa. Agora, em todas as oportunidades mediáticas, desdobra-se em anúncios e mais anúncios de obras físicas, a fazer algures no futuro.

O problema é muitas destas promessas parecerem coelhos tirados à pressa da cartola. Por exemplo, o autarca de Viseu acaba de anunciar um mercado novo para daqui a dois/três anos, mas, ao mesmo tempo, teve que confessar que não sabe quanto é que ele vai custar e nem tão pouco tem o projecto pronto.

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