Novo normal*
* Hoje no Jornal do Centro
Vídeo e podcast aqui
1. A peste de 2020 alterou o sentido de algumas palavras e expressões e pôs as pessoas comuns a usarem gíria dos técnicos. Por exemplo, todo o mundo, em todo o mundo, começou a proclamar que era preciso “achatar a curva”.
Aquele primeiro todo o mundo quer dizer que toda a gente percebeu a urgência em diminuir o crescimento das infecções para não entupir os sistemas de saúde.
Aqueloutro todo o mundo quer dizer que todos os países, de todos os continentes, com maior ou menor sucesso, achataram a maldita curva usando a “distância social”.
Passámos todos a perscrutar nos gráficos o “pico” e o “planalto” das infecções, estudámos o negócio dos “respiradores” e dos “equipamentos de protecção individual”, “higienizámos” superfícies, fizemos “etiqueta respiratória”, “confinámo-nos” de controlo-remoto na mão, só saindo para despejar o lixo e passear o cão. E agora, aos poucos, estamos a “desconfinar” enquanto remoemos, com desagrado, o “Rt” em “Lisboa e Vale do Tejo”.
Como se vê, a epidemia infectou também o nosso falar e, neste novo dialecto, nenhuma expressão ganhou um relevo tão grande como “novo normal”. Políticos e empresários, médicos e epidemiologistas, pastores evangélicos e bispos católicos, colunistas direitolas do Observador e escribas politicamente correctos do Público, autarcas em jornais locais e brasileiras em reportagens televisivas, maluquinhos das teorias conspirativas e especialistas instantâneos do Facebook, é tudo a bombar, é tudo a habitar neste planeta estranho chamado “novo normal”.
Não se julgue que isto é monopólio nosso. Eis alguns títulos recentes da imprensa mundial:
“Il nuovo normale nel dopo covid Commercio Elettronico”
“¿Cómo será el nuevo normal?”
“Why do we feel uneasy about a ‘new normal’?”
“Corona-Krise: Deutschland stolpert in ‘neue Normalität’”
“O ‘novo normal’ é uma bobagem”
“Leven in een nieuw normaal”
“Bienvenue dans le ‘nouveau normal’”
Imagine-se uma coisa dessas à porta do Colombo ou do Palácio do Gelo.
2. O “Programa de Estabilização Económica e Social”, apresentado por António Costa esta semana, não tem uma palavra, uma medida para o interior.
É o “velho normal”.
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1. A peste de 2020 alterou o sentido de algumas palavras e expressões e pôs as pessoas comuns a usarem gíria dos técnicos. Por exemplo, todo o mundo, em todo o mundo, começou a proclamar que era preciso “achatar a curva”.
Aquele primeiro todo o mundo quer dizer que toda a gente percebeu a urgência em diminuir o crescimento das infecções para não entupir os sistemas de saúde.
Aqueloutro todo o mundo quer dizer que todos os países, de todos os continentes, com maior ou menor sucesso, achataram a maldita curva usando a “distância social”.
Passámos todos a perscrutar nos gráficos o “pico” e o “planalto” das infecções, estudámos o negócio dos “respiradores” e dos “equipamentos de protecção individual”, “higienizámos” superfícies, fizemos “etiqueta respiratória”, “confinámo-nos” de controlo-remoto na mão, só saindo para despejar o lixo e passear o cão. E agora, aos poucos, estamos a “desconfinar” enquanto remoemos, com desagrado, o “Rt” em “Lisboa e Vale do Tejo”.
Como se vê, a epidemia infectou também o nosso falar e, neste novo dialecto, nenhuma expressão ganhou um relevo tão grande como “novo normal”. Políticos e empresários, médicos e epidemiologistas, pastores evangélicos e bispos católicos, colunistas direitolas do Observador e escribas politicamente correctos do Público, autarcas em jornais locais e brasileiras em reportagens televisivas, maluquinhos das teorias conspirativas e especialistas instantâneos do Facebook, é tudo a bombar, é tudo a habitar neste planeta estranho chamado “novo normal”.
Não se julgue que isto é monopólio nosso. Eis alguns títulos recentes da imprensa mundial:
“Il nuovo normale nel dopo covid Commercio Elettronico”
“¿Cómo será el nuevo normal?”
“Why do we feel uneasy about a ‘new normal’?”
“Corona-Krise: Deutschland stolpert in ‘neue Normalität’”
“O ‘novo normal’ é uma bobagem”
“Leven in een nieuw normaal”
“Bienvenue dans le ‘nouveau normal’”
Um shopping de Banguecoque reabriu com o seguinte cartaz: “Bem-vindo ao novo normal”. |
2. O “Programa de Estabilização Económica e Social”, apresentado por António Costa esta semana, não tem uma palavra, uma medida para o interior.
É o “velho normal”.
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