A chata da curva*

* Hoje no online do Jornal do Centro
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1. Neste ano da desgraça de 2020, durante dois meses, toda a gente esteve empenhada a achatar a curva das infecções e a arredondar a curva abdominal.




 É que todos aqueles pães caseiros e bolos produzidos nas nossas cozinhas não serviram só para fotografar e prantar nas redes sociais. O pão quentinho com manteiga foi sendo devidamente mastigado enquanto Rodrigo Guedes de Carvalho debitava conselhos e se filmava a lavar as mãos. As tartes e as sericaias lá foram escorregando enquanto Paulo Portas mostrava gráficos e discorria sobre geo-estratégia.

O oblívio há-de aliviar-nos das prédicas do primeiro, a memória há-de reter alguma coisa das análises do segundo. E, claro, os ginásios e as dietas hão-de reparar os outros estragos, não pensemos neles, pelo menos para já.

A curva das infecções nunca mais achata, a chata. Os últimos relatórios da Direcção-Geral de Saúde têm sido maus. Esperemos que a actual “situação de calamidade” — em que o povo parece mais solto e descuidado — não estrague o que o “estado de emergência” conseguiu.

Atestemos os carros enquanto o combustível não começa outra vez a subir. Usemos máscaras, já vai havendo algumas com griffe mas são poucas, por enquanto as máscaras são democráticas, igualizam os ricos e os pobres.

O vírus ainda não nos deixa aprochegar, mas podemos olhar-nos, os olhos são as janelas da alma, pelos olhos reconhecemo-nos uns aos outros.

Não tarda nada estão aí os santos populares. Vamos ter que perguntar aos vizinhos se não se importam que assemos sardinhas na varanda. E pimentos para os consumos veg.

Maldito vírus. Cuidado. Achatemos a chata da curva.

2. Durante o período mais crítico da Covid-19, o presidente da câmara de Viseu foi um zombie político.

Informação ao munícipes sobre o evoluir das infecções no concelho? Zero.

Preço da água das famílias? Euros de aumento, cêntimos de desconto.

Testes nos lares? Só depois de um empurrão do governo e da CIM.

Máscaras? Prometidas estão, mas por enquanto as pessoas que se desenrasquem.

Os viseenses não podem contar com o município quando a adversidade lhes bate à porta. Os actuais inquilinos do Rossio só se mexem para festas e festinhas.

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