MAD MADuro*
* Hoje no Jornal do Centro aqui
Yolman Lares vive na aldeia venezuelana de Guaca, na Península de Paria, onde, em 1498, Cristóvão Colombo pisou, pela primeira vez, o continente sul-americano.
Fotografia de Adriana Loureiro Fernandez |
Aquele pescador de 25 anos tem uma barraca com um telhado de zinco, chão de terra, onde vivem seis pessoas e há uma única cama. Uma miséria. Um negrume.
Uma notícia saída há uma semana no New York Times pôs Yolman e a sua aldeia debaixo dos radares dos media internacionais.
É que, numa abençoada manhã de Setembro, o nosso jovem pescador viu uma coisa a brilhar na praia e, curioso, foi lá, revolveu a areia, e achou um medalhão de ouro com a imagem da Virgem Maria.
Foi um milagre na vida desgraçada de Yolman. Ele contou ao sogro, este aos vizinhos e toda a gente da aldeia se pôs a garimpar a praia à procura do tesouro. Foram achadas “centenas de peças de ouro e jóias, ornamentos de prata e moedas de ouro trazidos pelo mar.”
Este mistério viralizou no Facebook mas a corrida ao ouro ficou-se só pelos habitantes de Guaca. A aldeia fica num lugar recôndito e na Venezuela não é fácil arranjar gasolina.
Guaca, em tempos idos, foi muito próspera. Tinha dezenas de fábricas de conserva que abasteciam toda a América Latina de latas de sardinha e atum. Infelizmente, as nacionalizações chavistas levaram as fábricas à falência e a ladroagem do governo (fica com metade do que for pescado a um cêntimo e meio por quilo) e a falta de combustível (que obriga a uma faina a remos) destroçaram a pesca.
Yolman Lares conseguiu 125 dólares com a venda das peças de ouro que achou. Uma fortuna para aquela gente. Há dois meses que há duas refeições por dia naquela casa. Pela primeira vez na vida as crianças comeram pão doce. A mais nova, a subnutrida Thairy, já engordou um bocadinho. A velha televisão foi consertada, compraram um altifalante usado para poderem ter música.
Yolman ainda tem dois brincos, mas não os quer vender. “É a única coisa bonita que tenho no mundo”, confessa ele, com um brilho nos olhos.
Já falta pouco para o melhor natal de sempre debaixo daquele telhado de lata.
Esta história comovente passa-se no país com as maiores reservas de petróleo do mundo mas que tem de importar combustíveis, racioná-los e vendê-los muito caros.
A Venezuela parece uma sequela marada da série de filmes australianos Mad Max, com toda a gente à míngua de gasolina.
Se a vida fosse um filme, MAD MEL Gibson resolvia o problema MAD MADuro. Infelizmente, a vida não é um filme.
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