Os loucos anos vinte*

* Hoje no Jornal do Centro aqui


Há cem anos, depois de duas tragédias encadeadas — a primeira guerra mundial (1914/18) e a pneumónica (1918/19) —, entrámos nos “Roaring Twenties”, nos “Années folles”, nos “Loucos Anos Vinte”.

Depois dos anos de privação da guerra e da peste: festa, álcool, jazz, dança, cinema, velocidade, automóveis. Viveram-se, então, uns tempos amáveis, de florescimento da ciência, da tecnologia, das artes, da alegria de viver.

Retrato de Maria Luísa Cabral Metelo,
por Jean-Gabriel Domergue (1925)

As mulheres, que durante a guerra tinham começado a trabalhar nas fábricas e nos serviços, já não regressaram ao papel de “fadas do lar”. Lutaram. Ganharam direito a voto, enquanto acendiam os seus cigarros enfiados em boquilhas sedutoras. 

Roupas confortáveis soltaram os seus corpos andróginos, com cortes de cabelo à “garçonne”, marias-rapazes a dançarem o charleston ao ritmo de Coco Chanel: «uma menina deve ser duas coisas: elegante e fabulosa».

E, delícia das delícias, as saias delas subiram acima do joelho.



Agora, depois de duas tragédias encadeadas — o subprime/dívidas-soberanas (2008/14) e a pandemia (2020/21) —, será que vamos entrar nuns novos “Loucos Anos Vinte”?

Não sei responder a esta pergunta. Ninguém sabe. Nestes apertos, o melhor é recorrer à prudência de João Pinto, ex-defesa-direito do FêCêPê: «não faço previsões, especialmente sobre o futuro.»

Uma coisa é certa: depois de devidamente vacinado, o pessoal vai carpediar, vai dedicar-se metodicamente à curtição, porque:

Editada a partir daqui

— está ressacado com os confinamentos, está ansioso por pele, por abraçar quem gosta, por escapadinhas rapidinhas;

— quer gastar o dinheiro que poupou fechado em casa;

— vem aí a bazuca europeia e a “facilitação quantitativa” dos bancos centrais pôs o dinheiro ao preço da chuva, com juros negativos.

Atenção! Nos loucos anos vinte de há cem anos, as mulheres começaram a usar calças e a diminuir o comprimento das saias. Agora, nestes loucos anos que aí vêm, pelo que se tem visto nos desfiles de moda e até nos passos perdidos da assembleia da república, os homens, além de calças, vão também começar a usar saias.

Isso não tem mal nenhum, claro. 

Embora, e peço perdão às leitoras por este meu ponto de vista, passe a haver alguma poluição estética nas avenidas e nas alamedas quando eles aparecerem com saias acima do joelho. 

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