Obesidade do espírito*
* Hoje no Jornal do Centro
1. Há uns anos, o Guardian publicou um artigo de Rolf Dobelli intitulado “As notícias são más para si e desistir de as ler vai fazê-lo mais feliz”. Nele, Dobelli afirma que o bombardeio incessante de factóides provenientes dos media e das redes sociais faz ao nosso espírito o que a fast-food faz ao nosso corpo — causa-lhe obesidade.
As “notícias” viciam e fecham-nos num presente que não sai do sítio. O último caso substitui o penúltimo, este, o antepenúltimo. Nunca pára esta máquina de amnésia: a detenção de Bruno Carvalho fez esquecer as passwords e as virgens ofendidas do parlamento, que, por sua vez, já nos tinham apagado a epístola cinegética do poeta Alegre, que, por sua vez, já nos tinha desacertado da cor das unhas de Isabel Moreira, que, por sua vez, nos arquivara o prof poliamoroso e desbeijante dos avós, que, por sua vez...
Este contínuo coabitar com o irrelevante, além de nos enclausurar no presente, causa-nos auto-ilusão. As pessoas julgam-se informadas e, na verdade, cada vez sabem menos do que se passa.
Há truques para tentar evitar ou diminuir essa obesidade do espírito. Sempre que possível, há que desligar do fluxo (dieta do espírito), preferir textos longos e reflexivos (exercício à mente) e alargar o presente tanto para trás (usando a memória) como para a frente (usando a capacidade de previsão).
2. Entra-se num túnel escuro, crepita restolho no chão, de um lado e do outro, nas paredes negras, “ardem” fotografias. Acabámos de imergir na tragédia dos incêndios de 15 e 16 de Outubro de 2017. Estamos na exposição “Dever de Memória”, de Adriano Miranda e Nuno André Ferreira, exposição notável que não deixa esquecer os dias mais negros da história da região.
A não perder. Na Quinta da Cruz, em Viseu, até 15 de Dezembro. As fotografias, todas excepcionais, todas reproduzidas num livro cuja receita da venda reverte para os bombeiros, levam-nos do negrume à esperança.
1. Há uns anos, o Guardian publicou um artigo de Rolf Dobelli intitulado “As notícias são más para si e desistir de as ler vai fazê-lo mais feliz”. Nele, Dobelli afirma que o bombardeio incessante de factóides provenientes dos media e das redes sociais faz ao nosso espírito o que a fast-food faz ao nosso corpo — causa-lhe obesidade.
As “notícias” viciam e fecham-nos num presente que não sai do sítio. O último caso substitui o penúltimo, este, o antepenúltimo. Nunca pára esta máquina de amnésia: a detenção de Bruno Carvalho fez esquecer as passwords e as virgens ofendidas do parlamento, que, por sua vez, já nos tinham apagado a epístola cinegética do poeta Alegre, que, por sua vez, já nos tinha desacertado da cor das unhas de Isabel Moreira, que, por sua vez, nos arquivara o prof poliamoroso e desbeijante dos avós, que, por sua vez...
Este contínuo coabitar com o irrelevante, além de nos enclausurar no presente, causa-nos auto-ilusão. As pessoas julgam-se informadas e, na verdade, cada vez sabem menos do que se passa.
Há truques para tentar evitar ou diminuir essa obesidade do espírito. Sempre que possível, há que desligar do fluxo (dieta do espírito), preferir textos longos e reflexivos (exercício à mente) e alargar o presente tanto para trás (usando a memória) como para a frente (usando a capacidade de previsão).
Manuel Francisco completou 82 anos no dia em que foi capa do jornal Público, numa fotografia-ícone de Adriano Miranda "Metafotografia" Olho de Gato |
2. Entra-se num túnel escuro, crepita restolho no chão, de um lado e do outro, nas paredes negras, “ardem” fotografias. Acabámos de imergir na tragédia dos incêndios de 15 e 16 de Outubro de 2017. Estamos na exposição “Dever de Memória”, de Adriano Miranda e Nuno André Ferreira, exposição notável que não deixa esquecer os dias mais negros da história da região.
A não perder. Na Quinta da Cruz, em Viseu, até 15 de Dezembro. As fotografias, todas excepcionais, todas reproduzidas num livro cuja receita da venda reverte para os bombeiros, levam-nos do negrume à esperança.
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