Falácia do custo irreparável*
* Texto publicado hoje no Jornal do Centro
1. Tomei pela primeira vez conhecimento do pensamento de Rolf Dobelli num artigo do Guardian em que ele explica por que razão não é bom estar sempre ligado ao fluxo noticioso porque o que agora se chama “notícias” faz ao espírito o que a fast-food faz ao corpo. É um texto libertador, facilmente achável na internet, intitulado “News is bad for you – and giving up reading it will make you happier”.
Em “A Arte de Pensar Com Clareza”, Dobelli recenseia 52 erros comuns de raciocínio e, entre eles, o da “falácia do custo irreparável”: a pulsão que nos faz agarrar às coisas só porque nelas já investimos muito tempo, energia, dinheiro, amor, …
Ficar a ver até ao fim um filme intragável não adianta nada, o dinheiro do bilhete já foi gasto em vão. O avião supersónico Concord nunca seria rentável mas a Inglaterra e a França continuaram, ano após ano após ano, a enterrar dinheiro nele, incapazes de acabarem com o projecto. Não é por acaso que a “falácia do custo irreparável” também é conhecida por “efeito Concord”.
Mais situações: «já percorremos um caminho tão longo....», «já li tantas páginas deste livro...», «já dediquei dois anos a este curso...»
Explica Dobelli: “há bons motivos, e são muitos, para investir na conclusão do que foi iniciado. E há um mau motivo: pensar no que foi investido. (...) O que conta é o presente e a avaliação que somos capazes de fazer quanto ao futuro.”
2. O AO90, o dito “acordo ortográfico”, é um flagrante exemplo de “falácia do custo irreparável”.
No presente o que temos é caos ortográfico e crispação (fervem os insultos entre “acordistas” e “desacordistas”). No futuro vamos continuar a ter uma escrita “à-vontade-do-freguês” e, enquanto todos os outros países lusófonos vão arrastar os pés, Portugal vai ficar no patético papel de lebre “acordista”.
Haverá algum político de topo capaz de perceber o erro e com coragem para fazer abortar o AO90?
Rolf Dobelli |
Em “A Arte de Pensar Com Clareza”, Dobelli recenseia 52 erros comuns de raciocínio e, entre eles, o da “falácia do custo irreparável”: a pulsão que nos faz agarrar às coisas só porque nelas já investimos muito tempo, energia, dinheiro, amor, …
Ficar a ver até ao fim um filme intragável não adianta nada, o dinheiro do bilhete já foi gasto em vão. O avião supersónico Concord nunca seria rentável mas a Inglaterra e a França continuaram, ano após ano após ano, a enterrar dinheiro nele, incapazes de acabarem com o projecto. Não é por acaso que a “falácia do custo irreparável” também é conhecida por “efeito Concord”.
Mais situações: «já percorremos um caminho tão longo....», «já li tantas páginas deste livro...», «já dediquei dois anos a este curso...»
Explica Dobelli: “há bons motivos, e são muitos, para investir na conclusão do que foi iniciado. E há um mau motivo: pensar no que foi investido. (...) O que conta é o presente e a avaliação que somos capazes de fazer quanto ao futuro.”
2. O AO90, o dito “acordo ortográfico”, é um flagrante exemplo de “falácia do custo irreparável”.
No presente o que temos é caos ortográfico e crispação (fervem os insultos entre “acordistas” e “desacordistas”). No futuro vamos continuar a ter uma escrita “à-vontade-do-freguês” e, enquanto todos os outros países lusófonos vão arrastar os pés, Portugal vai ficar no patético papel de lebre “acordista”.
Haverá algum político de topo capaz de perceber o erro e com coragem para fazer abortar o AO90?
Um amigo enviou-me um mail com este texto.
ResponderEliminarPartilho.
Não conheço o autor mas é uma achega para o texto do sr Gato sobre o AO.
Ortografia e chocolates
Estava aqui a lembrar-me de como o meu Pai prometia uma tablete de chocolate por cada ditado com zero erros que eu fizesse. As minhas preferidas eram aquelas da Regina, com sabor a ananás. Como eu, muito rapidamente, deixei de dar erros de ortografia, comecei a ter um enorme crédito de tabletes de chocolate (o meu Pai não me autorizava a comer os chocolates à mesma velocidade a que os ganhava) e a brincadeira acabou quando ele percebeu que eu nunca mais ia dar erros de ortografia e iria fazer uma reserva infinita de chocolates na despensa.
E depois lembrei-me de que, a partir de agora, ao fim de 40 anos, vou voltar a dar - oficialmente - erros de ortografia.
20 MAIO 2015
MCA