Uma filha-da-putice

He's back:
 porque todas as crianças são iguais
mas há umas que são mais iguais do que outras



Os manuais escolares não são gratuitos, são pagos pelos impostos nas escolas públicas e pelas famílias nas escolas privadas.

Como não há condição de recursos, nas escolas públicas a borla é para as famílias ricas, para as famílias remediadas e para as famílias pobres.

Como não há condição de recursos, nas escolas privadas não há borla nem para as famílias ricas, nem para as famílias remediadas e nem para as famílias pobres.

Esta diferença de tratamento entre escolas públicas e privadas tem um nome — é uma filha-da-putice.

Quem defende esta filha-da-putice costuma vir com o argumento "mas-nas-escolas-privadas-não-há-famílias-pobres" a que se poderá contrapor o argumento simétrico: "mas-nas-escolas-públicas-há-famílias-ricas".

Tanto um argumento como o outro são uma lateralidade em relação ao essencial: em matéria de manuais escolares, para o estado há portugueses de primeira e portugueses de segunda, uns são filhos, outros enteados.

Uma filha-da-putice.

Em Janeiro de 2017, no Jornal do Centro, fiz um apelo aos senhores presidentes da câmara para evitarem, com os seus orçamentos, este "apartheid". Renovo aqui o apelo.


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Adenda no dia 1 de Dezembro, às 11:35

A publicação deste texto no FB teve dezenas de comentários, a maioria a reprovarem o seu conteúdo, a discordarem deste meu argumento e a concordarem com esta discriminação. 


Permito-me, com bonomia, ironizar com a personagem que encima este post a partir de agora.

O que foi dito no FB lá está, o conteúdo é público.

Entretanto, ocorreu-me durante o debate que há mais um grupo de crianças a ser discriminado injustamente, crianças a serem também tratadas como cidadãos de segunda — os alunos que, nos termos da lei, estudam em casa, não frequentam nem escolas públicas nem privadas.

Esses também deviam receber manuais escolares pagos pelos impostos de todos os portugueses.


Dos vários contributos que recebi no FB, recordo um óbvio: esta divisão das crianças portuguesas em filhos e enteados, em matéria de manuais escolares, é provavelmente inconstitucional. 

Comentários

  1. O certo e o errado dependem de vários condicionalismos. Não se pode isolar um fenómeno do contexto. A justiça social tem que ser abrangente.Defender o privilégio pela igualdade não corresponde aos parâmetros do que pode ser considerado equitativo.Em resumo:quem tem privilégios a vários níveis na frequência do ensino privado tem que assumir todas as consequências. Ou melhor: porque não vai para o ensino público? Fala quem trabalha no publico e que sabe bem daquilo que está a ser questionado. Para termos um opinião fundamentada devemos estar no terreno. Assim o considero.

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  2. Pensei que o assunto estava "arrumado" mas foi com espanto que vi o meu comentário publicado. Gostei bastante. A ironia passa ao lado.Depois de ler os comentários ao seu post, concluí que as ideias que aqui defende são o oposto do que já defendeu noutros contextos. Esta questão da igualdade que apresenta de forma exaustiva e violenta nas palavras( não é preciso tanto para mostrar as suas ideias) não encaixa nos ideais sociais ( e políticos) de uma sociedade mais justa. Considerando que há filhos de pais que recebem o salário mínimo ( que eu não sei, como fazem para sobreviver) e outros que têm uma vida extremamente confortável, que até se dão ao luxo de entrar numa escola privada que poderá custar o tal salário mínimo com que o outro tem de sobreviver. Afinal está-se a falar de quê? Há estudos que apontam que é muito difícil um aluno que vem de uma família pobre, desestruturada, muitas vezes não se alimenta bem, à partida já está colocado pela vida numa situação injusta. Que culpa é que ele tem da sua origem? Afinal onde está a discriminação? Ah, fala quem viveu na primeira pessoa esta situação, mas conseguiu a pulso atingir o seu objetivo, apesar da pobreza. Uma pura questão de sorte. Falar de justiça e de igualdade e de discriminação, elitismo, etc,etc,etc, tem que ser para quem a experienciou na vida real e não através de pensamentos filosóficos em que a cultura sobressai, mas de forma completamente utópica.E já agora " Discriminador implacável" aplica-se às políticas de direita que querem o privado na educação e na saúde porque convém aos ricos. Até parece que se está a falar do Brasil.

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