Assessorias*

* Hoje no Jornal do Centro


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1. O dichote “Portugal é Lisboa e o resto é paisagem” descreve coisa muito antiga. Já Eça de Queirós, no seu Os Maias, depois de entalar um vidro no olho de João da Ega, fê-lo bradar deslembrado do seu Minho natal: «Portugal é Lisboa. Fora de Lisboa não há nada.»

Novo, novo, é o nível de centralismo que atingimos. Virado o milénio, todos os governos passaram a usar o mesmo pretexto e a mesma ferramenta para meterem tudo na capital. O pretexto foi a necessidade de controlo do défice, a ferramenta foi a informática. Esta tornou possível processar nos gabinetes ministeriais aquilo que, antes, as burocracias descentralizadas decidiam nos distritos e nos concelhos. Agora é Lisboa que coloca um professor numa escola de Portalegre ou um médico num centro de saúde de Chaves, é Lisboa que compra uma carga de um extintor do tribunal de Viseu e que paga uma factura do hospital de Portimão.

Ora, como é óbvio, Lisboa, como parte e reparte, não precisa de muita arte para ficar com a melhor parte, como todas as estatísticas mostram. Já não será tão óbvio perceber que isto faz aumentar a corrupção. Como a decisão está toda no mesmo sítio, os lóbis que precisam de a comprar têm a vida facilitada. Não surpreende que as “centrais de compras” do estado sejam coutada privativa de grandes empresas rentistas, como demonstrou um estudo da Universidade do Minho que acaba de ser tornado público.

2. Para além de meio ano de “assessoria de programação” ao vereador da cultura, o encenador Nuno Cardoso está, por estes dias, também em Viseu a fazer um evento sem especial novidade ou atenção pública. Por estes dois serviços, o futuro director artístico do Teatro Nacional S. João cobra, e muito bem, 112 mil euros ao município.

O mesmo não se poderá dizer da câmara que, ao aceitar pagar-lhos, se esquece da frugalidade que impõe, e muito bem, a outras iniciativas culturais com muitíssimo mais impacto na cidade, na região e no país.

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