O eduquês*

* Publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 21 de Novembro de 2008



O eduquês é a desgraça da escola portuguesa. O eduquês fala uma língua de trapo a que chama “ciências da educação”. O eduquês é uma ideologia instalada há décadas no ministério da educação e na administração escolar. O eduquês acha que as meninas e os meninos só precisam de “aprender a aprender” e de “progredir” sem esforço.

O eduquês é acientífico e, portanto, não se preocupa com conteúdos. Termos agora professores de alhos a avaliar professores de bugalhos não deve admirar ninguém. Faz parte do delírio do eduquês.

Há um livro de Nuno Crato que explica bem o que é o eduquês.

Maria de Lurdes Rodrigues (MLR) é adepta ferrenha do eduquês. Desde que entrou para o governo, ainda não parou de tentar fazer das escolas um ATL facilitista.

O facilitismo é uma traição às famílias, principalmente às mais pobres que não têm dinheiro para propinas privadas.

Um balanço sereno e objectivo do consulado de MLR mostra claramente as escolas públicas a perder e os colégios privados a ganhar. Basta analisar os rankings. Basta ouvir o que dizem o Executivo e a Associação de Pais da melhor escola pública do país, a Escola Secundária Infanta Dona Maria de Coimbra.

Em Novembro de 2006, na Livraria da Praça, Guilherme Valente fez uma previsão muito ajustada do que está a acontecer. O raciocínio prospectivo do editor da Gradiva foi o seguinte: 
(i) MLR não vai olhar a meios para obter resultados estatísticos cor-de-rosa; 
(ii) as pessoas vão perceber o truque; 
(iii) a imagem da escola pública vai bater no fundo; 
(iv) como resultado do desastre, vai surgir uma política séria para salvar a escola pública e fazer o funeral do eduquês.

O país está atolado na fase iii. Falta passar depressa à fase iv.

Comentários

  1. Dez anos depois, o que mudou?

    O que mudou com o “guru” Crato?
    O que mudou com o Tiaguinho?
    O que mudou com a (in)acção do Nogueira?
    O que mudou no pensamento estratégico do Ministério de Educação?
    NADA!

    “Venham estes desenganos
    do meu longo engano, e vão,
    que já o tempo e os anos
    outros cuidados me dão.
    Já não sou para mudanças,
    mais quero üa dor segura;
    vá crê-las vãs esperanças
    quem não sabe o qu'aventura!“

    Bernardim Ribeiro

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