Maçã (#1)

Vincent Van Gogh — daqui



A maçã na mesa: pomo da discórdia.
Abuso da minha inteligência
porque quero conhecê-la com dentes,
escavá-la até a longínqua estrela.
Saliva a saliva
procurar-lhe nomes,
no afunilado umbigo aprofundar a língua.

A presença hierática pede respeito
mas profano-a:
tenho de escolher entre ser
boa ou má,
quebrar a dormência – que não
para bela adormecida fui nascida.

Ouso, caio,
começo de novo o mundo,
exilo da fruta o sabor do amor celeste –
sou (por fim) mortal.

Debaixo da macieira
(ah dourada mediocridade!)
a sombra saboreio da vida ufana.
Não aguardo, com Arthur,
que os cavaleiros me livrem
do jugo estranho, e nem vou
(a pé, com Merlim)
aprender mágica no pomar.

Quero conhecer o mal e suas ramas.




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