Adicções*

* Hoje no Jornal do Centro


Adições dão somas, adicções, dependências. Nos tempos que correm, há cada vez mais gente a adicionar adicções. Uma delas é o smartphone.


Corre um meme nas redes que descreve perfeitamente esta agarração — numa fotografia temos sete pessoas sentadas em dois sofás: o pai, a mãe, o tio, a tia, o neto, a neta e a avó; ninguém diz nada; os seis primeiros estão ferrados no telelé, a avó olha o vazio, a legenda ironiza: «oxalá a vovó esteja a gostar da nossa visita».

Isto é mundial. As pessoas estão apanhadas de todo. O norte-americano médio consulta o seu aparato de doze em doze minutos. Para Portugal não há estatísticas, mas um sportinguista médio, como eu, está sempre a passar os dedos na maquineta para saber as últimas de Bruno de Carvalho.

No domingo, o Washington Post trazia um texto de William Wan a descrever esta adicção e a reportar a luta que os Davids do movimento “bem-estar digital” travam contra os Golias: a Apple, a Google, o Facebook e similares.

É que, explica Wan, os utilizadores estão transformados nos pombos de Skinner — um psicólogo comportamentalista que, há sessenta anos, pôs os bichos numa caixa e treinou-os a bicarem num botão para obterem comida; depois, o investigador subverteu as regras; para dar prémio, os pombos tanto tinham que bicar duas vezes, como cinco, ou uma, ou quatro, numa sequência que nunca se repetia; resultado: os pombos endoidaram e passaram a bicar convulsivamente o botão durante horas.

O que está a acontecer às pessoas é um bocado parecido. Haja ou não haja o “plim!” das notificações, pegam no smartphone à procura de um prémio. A maior parte das vezes, é uma irrelevância, é spam, é um video melga, é publicidade; uma vez por outra, aparece algo de interesse.

Amanhã à noite lá estarei eu às voltas com o meu Xiaomi à espera do jackpot — a notificação a informar que os sócios equiparam devidamente Bruno de Carvalho com uns patins debaixo dos pés.

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