NATO *
* Publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 26 de Novembro de 2010
A NATO e o Pacto de Varsóvia eram duas faces da mesma moeda a que se chamava Guerra Fria. Já passaram duas décadas sobre o desmoronamento do império soviético. Agora que a poeira assentou, é interessante olhar-se para o que aconteceu.
É verdade que o regime comunista estava tão senil como os velhos que mandavam no comité central. Mas foi o descontentamento do povo que verdadeiramente fez cair o império soviético?
David Kotz e Fred Weir, dois peritos em assuntos russos, defendem que não. Na ex-URSS as coisas não aconteceram por nenhuma movimentação popular pró-democracia.
A tese deles é a seguinte: as elites que controlavam a URSS perceberam que era melhor para os seus interesses que o império soviético caísse, pois eram essas elites que iam ficar com os despojos.
E foi isso que, de facto, aconteceu: os políticos mais poderosos e os oligarcas multimilionários que emergiram na nova Rússia era tudo gente que pertencia à classe dirigente comunista, a começar por Putin e Ieltsin que foram do topo do KGB para o topo do estado.
As teorias do triunfo imparável da democracia que nos animaram a seguir à queda do muro de Berlim têm que ser temperadas com a observação destes factos.
E, infelizmente, há ainda mais más notícias para as democracias liberais. A somar à pressão dos fundamentalismos, os efeitos da crise sistémica global estão a minar todos os dias os sistemas de protecção social em que assentam a moderação e a paz social das sociedades abertas.
Depois do colapso soviético, a NATO tem feito sucessivas revisões estratégicas — em 1991, em 1999 e, agora, em 2010 em Lisboa. A sua crise de identidade continua.
Para já, a NATO vai retirar do Afeganistão. Com o rabo entre as pernas. Tal como fez Mikhail Gorbatchev, em 1989, na véspera da implosão soviética.
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