Soldadeiras medievais #1 // Maria Leve, onde se confessava
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Maria Leve, onde se confessava,
eu vos direi o que manifestava:
— Já sou velha, ai capelão!
Não sei de pecadora mais burguesa
do que eu; mas vede o que ora mais me pesa:
– Já sou velha, ai capelão!
Sempre pequei desde que fui fodida,
mas eu vos direi porque estou perdida:
– Já sou velha, ai capelão!"
João Vasques de Talaveira
Talaveira (Toledo), século XIII
"As soldadeiras [putas] nomeadas no cancioneiro satírico são em número aproximado de duas dúzias. Todavia, não é possível afirmar com segurança que a cada nome corresponda uma mulher. Se sobre Maria Peres, a Balteira, temos dados suficientes para situá-la num tempo e espaço social determinado, sobre as outras muitas “Marias” reza um silêncio enigmático.
Maria Leve, por exemplo, alvo de três exclusivas cantigas do trovador João Vasques de Talaveira, é associada por Lapa a Balteira, pois a cantiga dedicada a esta pelo trovador está em B rodeada por aquelas outras três dedicadas a Maria Leve.
Todavia, esta associação apoiada apenas na proximidade das cantigas em B é frágil, pois há pelo menos oito soldadeiras denominadas “Maria” pelos trovadores, o que diz mais do comum do nome do que da identidade das cortesãs.
Ainda assim, sobre Maria Leve – se a dissociarmos de Maria Peres, a Balteira –, Maria Negra e Maior Garcia, poder-se-ia esboçar alguns traços de suas vidas ou contexto social levando-se em conta o facto de que mais de um trovador a elas dedicou uma cantiga, como é o caso de Maior Garcia, cantada por João Baveca, Pedro Amigo de Sevilha e Pero de Ambroa; ou, por outro lado, quando encontramos o caso de um só trovador ter-lhes dedicado um conjunto de cantigas, casos de Maria Leve e Maria Negra, cantadas, respectivamente, em três cantigas de João Vasquez de Talaveira e em três cantigas de Pero Garcia Burgalês."
Márcio Ricardo Coelho Muniz — aqui
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