Gatos, ratos, bufos, chibos*
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1. Por causa da Covid, este ano vão ser feitas menos um milhão e meio de consultas e menos 152 mil cirurgias do que em 2019.
Dito assim é uma abstracção. Passa a ser muito concreto se pensarmos no que aqueles números representam: sofrimento, angústia, medo, perda de qualidade de vida, especialmente dos nossos concidadãos mais pobres que não têm seguros de saúde.
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Senhora ministra, nesta emergência que estamos a viver, esqueça os seus preconceitos ideológicos. Lembre-se que a China, numa geração, foi levada do século XIX para o século XXI por esta ideia simples de Deng Xiaoping: “não importa se o gato é preto ou branco, desde que cace os ratos."
A senhora não gosta dos gatos pretos, mas precisamos também que os ponha a matar ratos. Faça isso. Só precisa de ter um cuidado: não dê mais ração aos gatos pretos privados do que está a dar aos gatos brancos públicos.
2. Histórias de bufos em escolas:
(i) O escritor António Cabrita, como é seu costume, escreveu um texto excelente no Hoje Macau na sequência da bufice de uma adolescente francesa que acabou na decapitação do professor Samuel Paty.
Nele, Cabrita conta-nos o que lhe aconteceu mal chegou à Universidade de Maputo, em 2006. Numa das suas aulas, para ilustrar que a “identidade sexual que assumimos” tem “o seu quê de construção social”, passou o belíssimo “The Crying Game”, de Neil Jordan, que tem um amor trans. Por causa disso, uns alunos islâmicos foram acusá-lo à direcção.
Cabrita conta-nos que viveu umas semanas de tensão e que, como felizmente o coordenador do curso se pôs ao seu lado, “a avançada moralista” acabou por ser decapitada.
Só que, reconhece ele com amargura e cheio de razão, se fosse agora, não é nada certo que acontecesse o mesmo. Basta lembrar que, no início desta semana, o Daesh decapitou centenas de pessoas no campo de futebol de Madjedje, no distrito de Muidumbe, no norte de Moçambique.
(ii) Em 14 de Outubro, na Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa, o professor João Pedro Costa estava a dar uma aula sem máscara porque não tinha nenhum aluno a menos de cinco metros e em frente a ele. Para seu espanto, a polícia foi lá interrompê-lo para o multar em cem euros. Tinha havido uma chibação anónima.
Esta história mostra-nos o quanto a peste está a fazer saltar o lado feio e escuro das pessoas. Lembremo-nos dos “pides das varandas” que passavam a vida a apontar o dedo aos vizinhos nas redes sociais, quando eles se atreviam a sair de casa durante o confinamento de Março e Abril.
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