Ele e ela (XV)*
* Hoje no Jornal do Centro
— Olá, querido, finalmente juntos e ao vivo.
— Tens razão, foi uma noite inesquecível aquela em que te conheci... mas no dia seguinte começava aquele curso de empreendedorismo em Londres...
— Foi boa, sim, mas soube a pouco e ainda não sei nada de ti. Durante estes meses, a tua conversa na net foi sempre a mesma: start-ups, unicórnios, janelas de oportunidade, candidaturas ao vinte-vinte, ou lá o que é isso...
— Chateia-te eu querer ser rico?
— Chateia-me não saber nada de ti, nem da tua família.
— Sou de uma família de falhados. O meu avô, um triste, montou uma fábrica de máquinas a petróleo em 1960...
— Máquinas a petróleo?
— Sim, eram muito usadas nas cozinhas antes de aparecerem os fogões a gás. O meu avô fez a fábrica quando estavam a chegar as botijas ao mercado. Um nabo. Faliu...
— Coitado, foi azar...
— Azar nada, o meu avô não percebia nada de empreeendedorismo, destratar a minha avó sabia ele, investir, não. Mas o meu pai fez pior...
— Então?!
— Em 1983, aquela besta enterrou uma fortuna numa fábrica de máquinas de escrever...
— Não correu bem?
— Claro que não. A IBM tinha lançado o primeiro PC dois anos antes. Estava-se mesmo a ver que o futuro ia ser das impressoras. O meu pai para tratar mal a minha querida mamã tinha muito jeito, para o empreendedorismo, nenhum...
— Empreendedorismo, empreendedorismo, estás sempre com isso na boca...
— Foi para isso que fui para Londres...
— Foi por isso que só tivemos aquela noite.
— ... e, enquanto estava lá, tive uma ideia para um negócio infalível...
— Infalível?
— Claro, não vou ser um falhado como o meu avô e o meu pai...
— Que vais fazer?
— Vou fazer um franchise de escolas tauromáquicas.
* Todas as crónicas desta série podem ser lidas no blogue Olho de Gato, na etiqueta "Ele e ela"
Fotografia de Christin Hume |
— Olá, querido, finalmente juntos e ao vivo.
— Tens razão, foi uma noite inesquecível aquela em que te conheci... mas no dia seguinte começava aquele curso de empreendedorismo em Londres...
— Foi boa, sim, mas soube a pouco e ainda não sei nada de ti. Durante estes meses, a tua conversa na net foi sempre a mesma: start-ups, unicórnios, janelas de oportunidade, candidaturas ao vinte-vinte, ou lá o que é isso...
— Chateia-te eu querer ser rico?
— Chateia-me não saber nada de ti, nem da tua família.
— Sou de uma família de falhados. O meu avô, um triste, montou uma fábrica de máquinas a petróleo em 1960...
— Máquinas a petróleo?
— Sim, eram muito usadas nas cozinhas antes de aparecerem os fogões a gás. O meu avô fez a fábrica quando estavam a chegar as botijas ao mercado. Um nabo. Faliu...
— Coitado, foi azar...
— Azar nada, o meu avô não percebia nada de empreeendedorismo, destratar a minha avó sabia ele, investir, não. Mas o meu pai fez pior...
— Então?!
— Em 1983, aquela besta enterrou uma fortuna numa fábrica de máquinas de escrever...
— Não correu bem?
— Claro que não. A IBM tinha lançado o primeiro PC dois anos antes. Estava-se mesmo a ver que o futuro ia ser das impressoras. O meu pai para tratar mal a minha querida mamã tinha muito jeito, para o empreendedorismo, nenhum...
— Empreendedorismo, empreendedorismo, estás sempre com isso na boca...
— Foi para isso que fui para Londres...
— Foi por isso que só tivemos aquela noite.
— ... e, enquanto estava lá, tive uma ideia para um negócio infalível...
— Infalível?
— Claro, não vou ser um falhado como o meu avô e o meu pai...
— Que vais fazer?
— Vou fazer um franchise de escolas tauromáquicas.
* Todas as crónicas desta série podem ser lidas no blogue Olho de Gato, na etiqueta "Ele e ela"
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