Os burgueses do Zoom e o bonsai de Marcelo*

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1. Os burgueses do Zoom que fazem opinião nas televisões, fartos de aturar os filhinhos em casa, desataram a fazer lóbi para uma abertura rapidinha das escolas, de preferência já depois-de-amanhã, já que amanhã é domingo e não pode ser. 

Hiperbolizam eles: manter os infantes em casa causa danos irreparáveis, vamos ter uma geração perdida, o futuro comprometido. Hã?!?! 

E avançam com “estudos” e mais “estudos”, gráficos coloridos, cálculos variegados, tudo a “demonstrar” a benignidade e especial brandura do vírus nas escolas. Hã?!?!

Perante esta pirotecnia de argumentos, os jornalistas — não menos cheios de aturar os descendentes — repetem o mesmo mantra: o governo tem que abrir as escolas.

A saturação com as crias é tão grande que, nos últimos dias, foi lançada a “bomba atómica”, perdão, a “bomba” que deixou a população atónita: «Os velhos que se quilhem! Ponham é já os profs em fila prás vÀcinas!»

Mário Nogueira não precisa de esperar pela Sputnik V, vai poder levar já no braço uma vÀcina capitalista. 


2. Faltam três dias para Marcelo Rebelo de Sousa iniciar o segundo mandato. Nos primeiros cinco anos, o PR foi um amparo de António Costa, nos cinco que aí vêm vai deixar de ser. 

Compreende-se que, contra a tradição das “retomadas” de posse, Marcelo não vá partir já a loiça na próxima terça-feira. É que, para além da pandemia, estamos em pleno semestre europeu. Para já, ainda não vão acontecer grandes brigas entre o PM e o PR. 

O primeiro acaba de obsequiar o segundo com um bonsai. Um ser vivo pequenino, bonito, que não cresce. Como o país. 

Infografia do Eco 1986-2019 aqui

O segundo prepara vichyssoises futuras: já nomeou uma equipa dirigida por Bernardo Pires de Lima para fazer “um acompanhamento muito próximo” da “execução do Plano de Recuperação e Resiliência”. 

As duas últimas décadas foram comidas pelos caranguejos. Vinte anos de declínio. Fomos ultrapassados pelo Chipre, a Eslovénia e a Estónia e já estamos a ver crescer nos retrovisores a Hungria, a Polónia, a Eslováquia e, até, a Roménia. 

É mais do que certo: Marcelo Rebelo de Sousa não vai ficar sossegado em Belém a regar e a tratar o bonsai que lhe deu António Costa. 

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