Imagens vacineiras*
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Ontem no Rádio Jornal do Centro
1. Até ao aparecimento das vacinas contra a covid, não era comum termos imagens de seringas espetadas em braços. Por norma, ninguém queria ficar com um souvenir desse momento desagradável e doloroso. Até os Chicos Fininhos deste mundo preferiam dar os seus chutos nas retretes, nos becos ou atrás das moitas.
Agora tudo mudou. Há milhões de imagens dessas nas redes sociais e nos media. O Washington Post até sentiu a necessidade de publicar um texto sobre etiqueta-das-selfies-no-momento-da-vacina com o título: “Tirar ou não tirar uma selfie? Como a alegria de ser vacinado está a provocar reacções”.
Uma imagem nas redes sociais de uma pessoa a vacinar-se, pelo menos para já, dá-lhe muitos likes e muito buzz. Mas tem riscos. Se um trintão ou um quarentão se puser a exibir a agulha nos bíceps, enquanto há milhões de velhos à espera da pica salvífica, arrisca-se a um feedback muito desagradável, seja ele fura-filas ou não.
Convém também não esquecer as questões estéticas: imagens das protuberâncias mamárias masculinas são visualmente deprimentes. A repetição delas até à náusea pelas televisões, como aconteceu entre nós, foi tudo menos boa para o estado de espírito do povo.
Já se sabe que o nadador Marcelo Rebelo de Sousa não se preocupa com esses detalhes e se mostra em tronco nu sem complexos, esteja ele na praia do Guincho, esteja ele na praia fluvial de Nandufe, esteja ele na farmácia a ser picado contra a influenza.
Já a grande Dolly Parton — depois de ter doado um milhão de dólares à Moderna para a pesquisa da vacina e, apesar disso, ter esperado pacientemente pela sua vez — levou um vestido muito prático e bonito, que só deixava à mostra a exacta e suficiente quantidade de pele necessária para a inoculação.
Dolly fez-se filmar enquanto fazia um apelo cantado aos seus concidadãos para se vacinarem. Nos EUA isso é necessário — a resistência à vacina tem diminuído, mas, segundo o Pew Research Center, ainda está nos 30%.
2. Depois, há os que preferiam que não se soubesse que já consumiram o produto.
No dia certo e à hora exacta, um autarca-zangão do Sátão esvoaçou até às Abelhinhas, uma IPSS do concelho de Viseu, para o seu chuto vacineiro.
Isso não nos deve surpreender. Como se sabe, os zangãos têm uma visão e um olfato capazes de detectar as coisas que lhe interessam a muitos quilómetros de distância.
O jornalista Tiago Virgílio Pereira, da CMTV, bem tentou apanhá-lo em flagrante, com a seringa espetada no braço. Isso não conseguiu, mas tem imagens dele lá, naquela colmeia fora do seu concelho.
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