Síndrome do Príncipe Carlos*
* Hoje no Jornal do Centro aqui
O termo geração tem um sentido muito fugidio. Não é fácil delimitar o conceito e perceber as formas em como as gerações são capazes, ou não, de gerar movimentos sociais e culturais.
Falarmos de gerações é, ao mesmo tempo, sumarento e inglório:
— é sumarento porque trata da ferrugem do viver (a que chamamos envelhecimento) e da luta dos novos para tomarem o lugar dos velhos (que resistem a ir-se embora);
— é inglório porque procura muito mas acha pouco (datas de nascimento próximas não significam valores e interesses próximos).
O termo geração pode ser difuso e confuso mas tem muito uso:
— lembremos a novecentista “geração de 70” (de Antero, Ramalho, Eça,...), ou a “geração perdida” (de T. S. Eliot, Ezra Pound, Hemingway, ...) ou a nossa “geração de 60” (do liceu de Viseu nos últimos anos do fascismo);
— lembremos designações tornadas universais pela força dos media norte-americanos: a “geração baby boomer” (nascidos entre 1946 e 1964), a “geração X” (1965-1979), a “geração millennial” (1980 até ao fim do milénio), ou as posteriores “geração Z” e “geração Alfa”.
O que há aqui de novo é o aumento da esperança de vida que faz com que as “guerras” entre o novo e o velho sejam cada vez mais prolongadas no tempo. Nem a covid — muito mais severa com os velhos do que com os novos — acelerou a substituição geracional.
Nos EUA, o “boomer” Trump, muito contrariado, lá terá que dar o lugar a Joe Biden, um... “pré-boomer”.
As redes sociais estão cheias de memes a gozarem o príncipe Carlos e a perenidade da sua mãe. Há um que o põe a fazer um testamento a favor de Isabel II. Um dia destes, os manuais de psicologia vão chamar “Síndrome do Príncipe Carlos” aos danos psicológicos causados em alguém por uma espera prolongada.
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Fotografia de José Coelho (Lusa) |
Em todo o lado, os “boomers” estão a ser substituídos pelos “xis” e os “millennials”.
No PS, Pedro Nuno Santos tem mostrado alguma impaciência pelo lugar do “boomer” António Costa. Como o primeiro-ministro, no último congresso socialista, foi ao microfone avisar que não estava a pensar reformar-se, espera-se que Pedro Nuno Santos seja psicologicamente forte e não desenvolva nenhuma síndrome.
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