Cesário Verde: vida à paxá e romances libertinos

Alcine rejoint Roger dans sa chambre, Jean-Honoré Fragonard, 1780 


Eu e ela

Cobertos de folhagem, na verdura,
O teu braço ao redor do meu pescoço,
O teu fato sem ter um só destroço,
O meu braço apertando-te a cintura;

Num mimoso jardim, ó pomba mansa,
Sobre um banco de mármore assentados.
Na sombra dos arbustos, que abraçados,
Beijarão meigamente a tua trança.

Nós havemos de estar ambos unidos,
Sem gozos sensuais, sem más ideias,
Esquecendo para sempre as nossas ceias,
E a loucura dos vinhos atrevidos.

Nós teremos então sobre os joelhos
Um livro que nos diga muitas cousas
Dos mistérios que estão para além das lousas,
Onde havemos de entrar antes de velhos.

Outras vezes buscando distracção,
Leremos bons romances galhofeiros,
Gozaremos assim dias inteiros,
Formando unicamente um coração.

Beatos ou pagãos, vida à paxá,
Nós leremos, aceita este meu voto,
O Flos-Sanctorum místico e devoto
E o laxo Cavalheiro de Faublas...
Cesário Verde

*****

As aventuras do Cavalheiro de Faublas, de Jean-Baptiste Louvet de Couvrai, 1787—1790

No contexto dos “Livros para Homens”, o romance libertino era promessa de aventuras galantes, uma fantasia de liberdade económica e sexual, sem interdição ou culpa.  
Focado na aristocracia francesa pré-revolucionária, falava de um mundo fechado sobre si mesmo. Nele, as pessoas viviam alheias aos problemas materiais e às dificuldades económicas. Todos dispunham livremente de seu tempo. 
Tendo o salão e o boudoir como palcos, a existência libertina era perpétua encenação. 

O livro de Louvet abordava a introdução de um jovem herdeiro nesse universo, relatando suas formas de sedução, disfarces e aventuras, no formato de memórias, em três partes: 
Les Amours du Chevalier Faublas (1787); 
Six semaines de la vie du Chevalier du Faublas (1788); 
La Fin des amours dus Chevalier Faublas (1790). 
Os três volumes podiam ser reeditados em um ou dois volumes, geralmente com o título genérico de "As aventuras do Cavalheiro de Faublas". 

Faublas era incansável, sempre pronto a partilhar a cama de mulheres da alta e da baixa sociedades, viúvas piedosas, freiras, mulheres de rua e donzelas. Sem medo ou ansiedade, o herói libertino acumula encontros amorosos. 
O disfarce era o segredo que abria as portas das alcovas e o conduzia por uma série de metamorfoses, inclusive de género e posições sexuais.
Leonardo Mendes, in "Livros para homens: 
sucessos pornográficos no Brasil no final do século XIX"


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