Poetas e conspiranóicos*
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1. Um dos momentos mais fortes da tomada de posse de Joe Biden foi quando a jovem Amanda Gorman leu o seu poema “The hill we climb – A montanha que subimos”. Foi comovente ouvi-la dizer-se “uma negra magrinha, descendente de escravos e criada por uma mãe solteira, a poder sonhar ser presidente, apenas por se descobrir recitando para um.”
Esta é uma tradição recente. Antes de Biden, só houve poesia nas tomadas de posse de Barack Obama, Bill Clinton e John F. Kennedy.
JFK foi o primeiro: em 1961, convidou um gigante da poesia, o então já octogenário Robert Frost. O velho poeta tinha sido o primeiro a endossá-lo, em Março de 1959. JFK era ainda só um jovem senador pouco rodado, mas Frost, numa entrevista, previu a sua eleição nestes termos: «o novo presidente vai ser de Boston», será «um puritano chamado Kennedy, os únicos puritanos que restam nos dias que correm são os católicos.»
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2. Nas presidenciais de 2016, os russos piratearam os e-mails de John Podesta, o director de campanha de Hillary Clinton. Como o homem tinha contactos com a pizzaria Comet Ping Pong, os trolls e robôs russos começaram a espalhar nas redes sociais que a ementa da pizzaria era um código para arranjar crianças para sexo e que a candidata democrata dirigia uma rede pedófila a partir da cave daquele restaurante de Washington.
Aquele lixo, depois, foi picado pelo “Info Wars”, um site norte-americano de teorias de conspiração. Resultado: um conspiranóico de 28 anos invadiu a pizzaria com três armas, deu uns tiros, mas felizmente não morreu ninguém. O maluquinho procurava compartimentos secretos no restaurante com crianças escravizadas, mas só conseguiu encontrar farinha e mozzarella. E quatro anos de cadeia, mais três de liberdade condicional.
Cada vez há mais gente a engolir “teorias da conspiração”, quanto mais absurdas mais sucesso têm. Então, covidiotas é mato. Mesmo agora durante esta tragédia que estamos a viver. Tentemos meter-lhes juízo na carola.
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Nota: para além dos links acima, este texto e o podcast são devedores da leitura de "RÚSSIA, EUROPA, AMÉRICA — O CAMINHO PARA O FIM DA LIBERDADE", de Timothy Snyder, e de "La nieve es plástico, las pizzerías son tapaderas y Kim Jong-un, un doble: la teoría de la conspiración que barre el mundo es más peligrosa de lo que parece"
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