Barbas de molho *

* No Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 7 de Janeiro de 2011

    

1. A democracia é, acima de tudo, o respeito pelas regras escritas e não escritas. Desde 1975, em Portugal as idas a votos têm corrido bem, sem dúvidas pós-eleitorais. Houve o caso das eleições para a câmara de Lisboa, em 2001, mas João Soares reconheceu imediatamente a vitória de Santana Lopes e as coisas não se enrodilharam.    

É que convém não esquecer: o momento mais simbólico de uma noite eleitoral não é a declaração do vencedor mas sim quando “o” ou “os” vencidos reconhecem a derrota e desejam felicidades ao vencedor.    

Refiro-me a estes factos básicos porque cada vez são mais evidentes os sinais de que a nossa democracia está em défice de oxigénio. O país é uma enorme panela de pressão ao lume depois de anos de pântano, corrupção e esbulho fiscal.     

Numa democracia, ir a votos serve para pôr os contadores a zero. A matemática eleitoral descarrega a electricidade estática e abaixa a febre social. Cria-se um período de expectativa em relação ao novo poder legitimado pelo voto.   

Ora, nada disso vai acontecer no dia 23 de Janeiro. Os debates televisivos entre os candidatos presidenciais foram uma nulidade.     

Mesmo o último, em que Cavaco deu uma sova na poltronice de Manuel Alegre, mesmo esse não serviu para nada.    

 Nem se ficou a saber se o próximo presidente, no uso dos seus poderes, vai ou não pôr uns patins nos pés daquela calamidade que manda na Procuradoria-Geral da República.

     


2. Em 31 de Dezembro de 2009, Portugal estava em 41º lugar na tabela mundial de risco de crédito. Agora fez o réveillon em 4º lugar.     

Eis o Top 10 dos países em risco de bancarrota: Grécia, Venezuela, Irlanda, Portugal, Argentina, Paquistão, Ucrânia, estado do Illinois (EUA), Espanha e Dubai.    

Espanha em nono lugar. É melhor o euro ir pondo as barbas de molho.


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