Hoje é dia de reflexão*

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1. Através de uma burocracia facílima, feita na internet, inscrevi-me para o voto antecipado e lá irei pôr uma cruz no papelinho amanhã, 17 de Janeiro, na Escola da Ribeira de Viseu, junto ao rio Pavia. Espero não meter água.

Há aqui uma ironia: hoje, para mim e para muita gente, é “dia-de-reflexão”, mas não há interrupção da campanha eleitoral e pode escrever-se sobre as presidenciais sem ter a Comissão Nacional de Eleições à perna. 

Já no próximo sábado, a lei impõe bico calado e essa imposição vai ser respeitada. Claro que haverá sempre um ou outro fanático, nas redes sociais, a apelar ao voto nos seus ou a dizer mal dos adversários, mas isso são incontinências sem grande importância de gente que depois muda a fralda. 

A verdade é que a generalidade das pessoas respeita este pára-tudo-para-reflectir, apesar deste interdito estar cheio de teias-de-aranha, muito mais visíveis agora quando tantos eleitores votam antecipadamente, logo já não têm nada para reflectir. 

Quando muito podem ter é razões para se arrepender mas a vida é assim: uns sapatos mal comprados podem ter devolução, um voto mal dado, não.


Fotografia daqui

2. A peste, o novo confinamento e todas as sondagens a anunciarem um vencedor antecipado por larguíssima margem, fazem prever uma abstenção recorde, bem superior à das presidenciais de há cinco anos (51,3%) e à de há dez anos (53,5%). 

Em 2016, Marcelo foi eleito com 2.411.925 votos (25% dos eleitores) e, apesar de ser muito mais popular do que o seu antecessor, desta vez não deverá fazer melhor do que Cavaco Silva na sua reeleição: 2.231.603 votos (23%). 

Pode ser bem pior: o PR corre o sério risco de ser eleito com menos de dois milhões de votos, bem menos de 20% dos eleitores. 


3. Desde 1975, não tem havido, entre nós, grandes dúvidas sobre a fidedignidade dos resultados eleitorais:

— em 2001, numas eleições para a câmara de Lisboa muito renhidas e cheias de problemas, João Soares reconheceu imediatamente a vitória de Santana Lopes e as coisas não se enrodilharam; 

— nas presidenciais de 2011, quando se passou a votar com o cartão do cidadão e não com o cartão de eleitor, dezenas de milhares de eleitores não o conseguiram fazer, mas nem aí houve sarilhos já que o segundo mais votado, Manuel Alegre, não levantou questões.

É que, como já se sabia e se viu agora de novo nos EUA, numa noite eleitoral é mais importante o momento em que o derrotado reconhece que perdeu do que o momento em que o vencedor proclama a vitória.

Espera-se também que, desta vez, não apareça para aí nenhum trumpezinho a querer lançar suspeitas sobre um processo novo mas necessário por imperativo sanitário: a recolha móvel de votos nos lares de idosos e em casa dos confinados.

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