Na pontuação cirúrgica desta febre

Fotografia de Jake Nackos



Na pontuação cirúrgica desta febre,
com o teu nome subsisto na boca do começo,
nestes dias, nos centauros da noite, sob as aberturas da terra.
Caminhamos e a casa sussurra arduamente no inverno dos quartos,
uma ferida em forma humana existe com arquipélagos nos braços,
uma longa estrela roda sobre uma cor indefinida
inebriada no centro.
Somos os veios da fascinação das coisas,
como uma pequena força, por vezes um satélite, alguém fixamente
nos pés tentaculares do sonho recriando a ilusão do drama
e amadurecendo os sinais.
E depois subsiste uma reescrita, um excesso vocal,
um regresso provisório ao fundo da fotografia,
um presságio de nada refulgindo nos olhos,
um não conseguir dormir dentro do que se afasta devagar.
Na pontuação cirúrgica desta febre,
na consolação que contorna todos os regressos,
um rio íntimo atravessa as nervuras da planta
e uma sala enche-se de pequenos círculos de massa.
O prolongamento desta sonata perscruta as paredes da casa,
a permanência que ignora o corpo
na escuridão intacta que tudo alastra e prende.
Tiago Nené



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