[Viste o cavalo varado a uma varanda?]

Fotografia de Gül Kurtaran

Viste o cavalo varado a uma varanda?
Era verde, azul e negro e sobretudo negro.
Sem assombro, vivo da cor, arco-irís quase.
E o aroma do estábulo penetrando a noite.

Do outro lado da margem ascendia outro astro
como uma lua nua ou como um sol suave
e o cavalo varado abria a noite inteira
ao aroma de Junho, aos cravos e aos dentes.

Uma língua de sabor para ficar na sombra
de todo um verão feliz e de uma sombra de água.
Viste o cavalo varado e toda a noite ouviste
o tambor do silêncio marcar a tua força

e tudo em ti jazia na noite do cavalo.
António Ramos Rosa



Comentários

  1. Bom dia e boa semana.

    Da Séria - “No tempo em que” havia músicos a fazer intervenção política.
    Hoje: José Mário Branco – “Eh! Companheiro” e curioso coincidência que os recentes posts do Sr Gato se intitulam: “MORAL” (o que falta) E “A casa do caralho” (para onde apetece mandar muita boa gente…). Nestes tempos de políticos manhosos que “esquecem as regras da transparência” (mero engano) ou confundem a sua morada oficial com a do partido…
    Recordo a canção “Eh! Companheiro” e a sua mensagem anti-regime e reconheço que foi das músicas que mais me marcou no antes 25 Abril. Chamo a atenção para o brilhante poema de Sérgio Godinho e para o ritmo sequenciado dos instrumentos (violinos) / coro e sobretudo o matraquear (forte e lutador) do piano.

    José Mário Branco vai para o exílio em 1963 e escolhe viver em Paris onde toma contacto com os bidonville e as duras condições dos emigrantes. Foi membro do Partido Comunista, fundador do GAC, da Comuna e do Bloco de Esquerda, é vulto incontornável da música nacional mas também do activismo político dando um renovado significado à “máxima resistir é vencer”.
    Ao longo da carreira, um princípio fundamental norteou sempre as posições de José Mário Branco: a defesa intransigente da música portuguesa; factor aliado ao colocar a canção ao serviço da luta dos trabalhadores, mas nunca aceitou que os critérios políticos ultrapassem os critérios estéticos. Como se verifica, na sua qualidade de produtor, de Camané.

    Serve ainda este texto para recordar que conheci as palavras (entrevista) do Zé Mário através da revista “Mundo da Canção”, fundada em 1969, no Porto, pelo Avelino Tavares. Revista pioneira e de grande qualidade na divulgação da música popular nacional e estrangeira. Como dizia no seu editorial: “A música é a expressão mais importante da reivindicação da juventude de todo o mundo e tu, Jovem de Portugal, tens uma palavra a dizer”.

    “Eh! Companheiro”, enquanto houver memória cá estaremos para te cantar e divulgar:
    “Só tem medo desses muros / quem tem muros no pensar”.

    José Mário Branco – “Eh! Companheiro”
    https://youtu.be/kCarZNZGrIU

    Eh! Companheiro aqui estou
    aqui estou pra te falar
    Estas paredes me tolhem
    os passos que quero dar
    uma é feita de granito
    não se pode rebentar
    outra de vidro rachado
    p'ras duas pernas cortar

    Eh! Companheiro resposta
    resposta te quero dar
    Só tem medo desses muros
    quem tem muros no pensar
    todos sabemos do pássaro
    cá dentro a qu'rer voar
    se o pensamento for livre
    todos vamos libertar

    Eh! Companheiro eu falo
    eu falo do coração
    Já me acostumei à cor
    desta negra solidão
    já o preto que vai bem
    já o branco ainda não
    não sei quando vem o vento
    pra me levar de avião

    Eh! Companheiro respondo
    respondo do coração
    ser sozinho não é sina
    nem de rato de porão
    faz também soprar o vento
    não esperes o tufão
    põe sementes do teu peito
    nos bolsos do teu irmão

    Eh! Companheiro vou falar
    vou falar do meu parecer
    Vira o vento muda a sorte
    toda a vida ouvi dizer
    soprou muita ventania
    não vi a sorte crescer
    meu destino e sempre o mesmo
    desde moço até morrer

    Eh! Companheiro aqui estou
    aqui estou p'ra responder
    Sorte assim não cresce a toa
    como urtiga por colher
    cresce nas vinhas do povo
    leva tempo a amadur'cer
    quando mudar seu destino
    está ao alcance de um viver

    Eh! Companheiro aqui estou
    aqui estou pra te falar
    De toda a parte me chamam
    não sei p'ra onde me virar
    uns que trazem fechadura
    com portas para espreitar
    outros que em nome da paz
    não me deixam nem olhar

    Eh! Companheiro resposta
    resposta te quero dar
    Portas assim foram feitas
    p'ra se abrir de par em par
    não confundas duas coisas
    cada paz em seu lugar
    pela paz que nos recusam
    muito temos de lutar.

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  2. Bom dia e boa semana.

    Da Séria - “No tempo em que” havia músicos a fazer intervenção política.

    Hoje: José Mário Branco – “Eh! Companheiro” e curioso coincidência que os recentes posts do Sr Gato se intitulam: “MORAL” (o que falta) E “A casa do caralho” (para onde apetece mandar muita boa gente…). Nestes tempos de políticos manhosos que “esquecem as regras da transparência” (mero engano) ou confundem a sua morada oficial com a do partido…

    Recordo a canção “Eh! Companheiro” e a sua mensagem anti-regime e reconheço que foi das músicas que mais me marcou no antes 25 Abril. Chamo a atenção para o brilhante poema de Sérgio Godinho e para o ritmo sequenciado dos instrumentos (violinos) / coro e sobretudo o “matraquear” forte, ritmado e lutador do piano.
    José Mário Branco vai para o exílio em 1963 e escolhe viver em Paris onde toma contacto com os bidonville e as duras condições dos emigrantes. Foi membro do Partido Comunista, fundador do GAC, da Comuna e do Bloco de Esquerda, é vulto incontornável da música nacional mas também do activismo político dando um renovado significado à “máxima resistir é vencer”.

    Ao longo da carreira, um princípio fundamental norteou sempre as posições de José Mário Branco: a defesa intransigente da música portuguesa; factor aliado ao colocar a canção ao serviço da luta dos trabalhadores, mas nunca aceitou que os critérios políticos ultrapassem os critérios estéticos. Como se verifica, na sua qualidade de produtor, de Camané.

    Serve ainda este texto para recordar que conheci as palavras (entrevista) do Zé Mário através da revista “Mundo da Canção”, fundada em 1969, no Porto, pelo Avelino Tavares. Revista pioneira e de grande qualidade na divulgação da música popular nacional e estrangeira. Como dizia no seu editorial: “A música é a expressão mais importante da reivindicação da juventude de todo o mundo e tu, Jovem de Portugal, tens uma palavra a dizer”.

    “Eh! Companheiro”, enquanto houver memória cá estaremos para te cantar e divulgar:
    “Só tem medo desses muros / quem tem muros no pensar”.

    José Mário Branco – “Eh! Companheiro”
    https://youtu.be/kCarZNZGrIU

    Eh! Companheiro aqui estou
    aqui estou pra te falar
    Estas paredes me tolhem
    os passos que quero dar
    uma é feita de granito
    não se pode rebentar
    outra de vidro rachado
    p'ras duas pernas cortar

    Eh! Companheiro resposta
    resposta te quero dar
    Só tem medo desses muros
    quem tem muros no pensar
    todos sabemos do pássaro
    cá dentro a qu'rer voar
    se o pensamento for livre
    todos vamos libertar

    Eh! Companheiro eu falo
    eu falo do coração
    Já me acostumei à cor
    desta negra solidão
    já o preto que vai bem
    já o branco ainda não
    não sei quando vem o vento
    pra me levar de avião

    Eh! Companheiro respondo
    respondo do coração
    ser sozinho não é sina
    nem de rato de porão
    faz também soprar o vento
    não esperes o tufão
    põe sementes do teu peito
    nos bolsos do teu irmão

    Eh! Companheiro vou falar
    vou falar do meu parecer
    Vira o vento muda a sorte
    toda a vida ouvi dizer
    soprou muita ventania
    não vi a sorte crescer
    meu destino e sempre o mesmo
    desde moço até morrer

    Eh! Companheiro aqui estou
    aqui estou p'ra responder
    Sorte assim não cresce a toa
    como urtiga por colher
    cresce nas vinhas do povo
    leva tempo a amadur'cer
    quando mudar seu destino
    está ao alcance de um viver

    Eh! Companheiro aqui estou
    aqui estou pra te falar
    De toda a parte me chamam
    não sei p'ra onde me virar
    uns que trazem fechadura
    com portas para espreitar
    outros que em nome da paz
    não me deixam nem olhar

    Eh! Companheiro resposta
    resposta te quero dar
    Portas assim foram feitas
    p'ra se abrir de par em par
    não confundas duas coisas
    cada paz em seu lugar
    pela paz que nos recusam
    muito temos de lutar.

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