entras, não tens medo
Fotografia de Clem Onojeghuo |
entras, não tens medo
rodeado de olhares com sono que ainda não sabem
que as palavras são sempre as mesmas
(uma espécie de cerimónia onde te repetes para evitar a morte)
mentimos os dois sobre uma história feita de fragmentos
dizes que nem sempre o guião é o mesmo
mas repetes-me o teu monólogo ao ouvido
“deixa-me sair” vou abandonar a personagem
que balança no vazio
última tentativa: observo-te e tu já não me vês
conheces-me tão pouco, não, isto…
isto não é um dueto, é um duelo
friamente o silêncio cai sobre nós
não há vozes nem adereços
(a cena está vazia)
há apenas uma cortina de vento onde as palavras
nunca se moldaram
Maria Sousa
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