Da Séria - “No tempo em que” havia músicos a fazer intervenção política. Hoje: José Afonso – “A morte saiu à rua” - “à lei assassina à morte que te matou”.
José Afonso é com Jaques Brel e Leo Ferré o meu trio de eleição dos cantores de intervenção (o que quer que esse jargão redutor signifique). Poderia juntar José Mário Branco…!
Zeca Afonso teve “galo” em ter nascido em Portugal, um país em “inho” como disse o grande O´Neil, pois merecia outros horizontes. José Afonso É o grande mestre da música popular portuguesa e cada uma das suas cantigas foi concebida deliberadamente à revelia da ideologia dominante e contra ela. Na realidade, porém, as canções de conteúdo expressamente político são até minoritárias no conjunto da sua obra. Razão do tempo é o facto da marginalização musical a que está vetado nas rádios se traduzir no ser o autor mais cantado por todas as gerações e diferentes escolas de músicos.
Um genial autor e intérprete de canções, cidadão exemplar e incansável lutador pela liberdade e pela justiça no contexto da ditadura salazarista, mas também no-pós 25 de Abril.
“A MORTE SAIU À RUA” – refere-se ao assassinato do pintor José Dias Coelho (tinha 38 anos) em 19 de Dezembro de 1961, morto a tiro pela PIDE numa rua de Alcântara em Lisboa, mas simboliza todas as mortes e torturados pela PIDE na época sombria de 40 anos.
“Uma gota rubra sobre a calçada cai E um rio de sangue dum peito aberto sai”
José Dias Coelho entra, em 1955, na clandestinidade como funcionário do Partido Comunista Português, sabendo que a tarefa que lhe está designada é montar uma oficina de falsificação de documentos, bilhetes de identidade, licenças de bicicleta, cartas de condução, passaportes, etc., para defesa dos militantes clandestinos no trabalho de organização e nas relações internacionais do Partido. O militante foi um obreiro da unidade antifascista dos intelectuais da sua capacidade de desenvolver os largos consensos que elas implicavam, em grande parte facilitados pelo prestígio, a simpatia e o respeito pelas suas convicções, que muitos artistas e intelectuais, alguns bastante mais velhos, por ele sentiam.
A canção denota uma sonoridade perfeita, onde cada palavra tem um vincado significado, como “a foice de uma ceifeira de Portugal” ou “e o som da bigorna como um clarim do céu”, o que é uma imagem lírica simplesmente espectacular!
José Afonso – “A morte saiu à rua” https://youtu.be/P3SPkq3hw-c
A morte saiu à rua num dia assim Naquele lugar sem nome pra qualquer fim Uma gota rubra sobre a calçada cai E um rio de sangue dum peito aberto sai
O vento que dá nas canas do canavial E a foice duma ceifeira de Portugal E o som da bigorna como um clarim do céu Vão dizendo em toda a parte o pintor morreu
Teu sangue, Pintor, reclama outra morte igual Só olho por olho e dente por dente vale À lei assassina à morte que te matou Teu corpo pertence à terra que te abraçou
Aqui te afirmamos dente por dente assim Que um dia rirá melhor quem rirá por fim Na curva da estrada há covas feitas no chão E em todas florirão rosas duma nação
Bom dia e boa semana.
ResponderEliminarDa Séria - “No tempo em que” havia músicos a fazer intervenção política.
Hoje: José Afonso – “A morte saiu à rua” - “à lei assassina à morte que te matou”.
José Afonso é com Jaques Brel e Leo Ferré o meu trio de eleição dos cantores de intervenção (o que quer que esse jargão redutor signifique). Poderia juntar José Mário Branco…!
Zeca Afonso teve “galo” em ter nascido em Portugal, um país em “inho” como disse o grande O´Neil, pois merecia outros horizontes. José Afonso É o grande mestre da música popular portuguesa e cada uma das suas cantigas foi concebida deliberadamente à revelia da ideologia dominante e contra ela. Na realidade, porém, as canções de conteúdo expressamente político são até minoritárias no conjunto da sua obra. Razão do tempo é o facto da marginalização musical a que está vetado nas rádios se traduzir no ser o autor mais cantado por todas as gerações e diferentes escolas de músicos.
Um genial autor e intérprete de canções, cidadão exemplar e incansável lutador pela liberdade e pela justiça no contexto da ditadura salazarista, mas também no-pós 25 de Abril.
“A MORTE SAIU À RUA” – refere-se ao assassinato do pintor José Dias Coelho (tinha 38 anos) em 19 de Dezembro de 1961, morto a tiro pela PIDE numa rua de Alcântara em Lisboa, mas simboliza todas as mortes e torturados pela PIDE na época sombria de 40 anos.
“Uma gota rubra sobre a calçada cai
E um rio de sangue dum peito aberto sai”
José Dias Coelho entra, em 1955, na clandestinidade como funcionário do Partido Comunista Português, sabendo que a tarefa que lhe está designada é montar uma oficina de falsificação de documentos, bilhetes de identidade, licenças de bicicleta, cartas de condução, passaportes, etc., para defesa dos militantes clandestinos no trabalho de organização e nas relações internacionais do Partido.
O militante foi um obreiro da unidade antifascista dos intelectuais da sua capacidade de desenvolver os largos consensos que elas implicavam, em grande parte facilitados pelo prestígio, a simpatia e o respeito pelas suas convicções, que muitos artistas e intelectuais, alguns bastante mais velhos, por ele sentiam.
A canção denota uma sonoridade perfeita, onde cada palavra tem um vincado significado, como “a foice de uma ceifeira de Portugal” ou “e o som da bigorna como um clarim do céu”, o que é uma imagem lírica simplesmente espectacular!
José Afonso – “A morte saiu à rua”
https://youtu.be/P3SPkq3hw-c
A morte saiu à rua num dia assim
Naquele lugar sem nome pra qualquer fim
Uma gota rubra sobre a calçada cai
E um rio de sangue dum peito aberto sai
O vento que dá nas canas do canavial
E a foice duma ceifeira de Portugal
E o som da bigorna como um clarim do céu
Vão dizendo em toda a parte o pintor morreu
Teu sangue, Pintor, reclama outra morte igual
Só olho por olho e dente por dente vale
À lei assassina à morte que te matou
Teu corpo pertence à terra que te abraçou
Aqui te afirmamos dente por dente assim
Que um dia rirá melhor quem rirá por fim
Na curva da estrada há covas feitas no chão
E em todas florirão rosas duma nação