Ressaca*

* Publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 2 de Maio de 2008



1. Este ano está a haver uma corrida aos resgates de PPRs; o saldo entre resgates e subscrições, no final de Março, já era de 171 milhões de euros; entre os primeiros trimestres de 2007 e 2008, a situação degradou-se 274 vezes.

A situação económica está brava. Só diz o contrário “alguém que está a olhar através de uma janela fechada e não consegue explicar a si mesmo os estranhos movimentos de um transeunte na rua. Esse alguém desconhece a tempestade que vai lá fora e portanto que essa pessoa está apenas a fazer um grande esforço para se conseguir aguentar em pé” (palavras do filósofo Ludwig Wittgenstein para sua irmã).

Há muita gente sem dinheiro e que está a vender os últimos anéis. Gente desesperada, no meio de uma tempestade, a fazer um grande esforço para se aguentar em pé.

2. Vivemos um clima “escassamente propício à jubilação colectiva”, conforme dizia o texto deste ano da Associação 25 de Abril que foi assinado, entre outros, por Mário Soares, Vieira da Silva, Ferro Rodrigues e António Costa.

O nosso 11 de Setembro foi uns meses antes do americano; foi em 4 de Março de 2001, quando a Ponte de Entre-os-Rios caiu nas águas do Douro. Estamos em ressaca desde então.

Não correu bem a ideia de fazer de Portugal um país de eventos. A Expo 98 e o Euro 2004 não nos ajudaram. Erguer estádios aumentou-nos o IVA e fechou-nos urgências. 

F
Leiria, falência com vista para o castelo — daqui

Ainda por cima, infelizmente, o grego Haristeas marcou-nos aquele golo de cabeça na final… Cristiano Ronaldo e José “special one” Mourinho consolam-nos alguma coisa, mas não chega.


Continuamos de ressaca. Levamos já sete anos deste tempo “escassamente propício à jubilação colectiva.”

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