Familismo, boyismo*

* Hoje no Jornal do Centro


1. Para além do fenómeno do familismo — pujante no concelho de Viseu como vimos aqui na semana passada —, há outra disfunção do poder local a que se dá pouca atenção: o aliciamento das oposições. Quando um presidente da câmara não tem maioria ou não quer chatices raramente precisa de dar pelouros a mais do que um vereador da “oposição”. Este, depois, encarrega-se de domesticar o seu grupo parlamentar na assembleia municipal.

É por isso que era muito mais transparente não misturar “situação” e “oposição” numa câmara. Os executivos deviam resultar de maiorias coerentes na assembleia municipal, assumidas por um partido ou por uma coligação. E o presidente da câmara devia poder escolher e substituir a sua equipa de vereadores como entendesse.

Claro que tudo isto implicava termos assembleias municipais com mais poderes de escrutínio e com o poder de derrubar os governos municipais.


Daqui


2. O forrobodó que a assembleia municipal de Lisboa, presidida por Helena Roseta, acaba de aprovar por unanimidade só é entendível no quadro de aliciamento das oposições.

Os lisboetas vão pagar mais de um milhão e duzentos mil euros por ano em boys e girls para todos os grupos parlamentares. Cada assessor vai afinfar 3752,50 euros mais IVA, cada secretária 2802,50 euros mais IVA. Por exemplo: só os boys veg do partido mais pequeno, o PAN, vão custar mais de 7000 euros por mês aos alfacinhas.

Esta cadeia alimentar — que já vem do tempo em que o então mayor António Costa estava em minoria — foi conhecida agora com algum estrépito nos jornais. O dirigente do PSD, José Eduardo Martins, acrescentou um pormenor delicioso: há deputados municipais com tanta flexibilidade vertebral que... conseguem contratar-se a si próprios como assessores.

No que veio a público não há referência a laços de parentesco desta malta. Tenhamos esperança que algum jornalista garimpe essas conexões familiares e indague se elas influenciam, ou não, a atribuição de casinhas municipais.

Comentários

  1. Muito me custa escrever estas linhas.

    Mas a perspectiva republicana da “causa pública” é treta.
    Não há almoços grátis e tudo é negócio!
    Triste realidade.

    E como não hão-de os cidadãos olhar de soslaio os políticos? Como não há-de aumentar o número de abstencionistas? Nada que me deixe deleitado, pelo contrário, pois sem participação não há democracia.

    Mas, quando este negócio tem a chancela da transparente, imaculada e cândida Helena Roseta, como querem que eu acredite nos políticos?

    Pins, pah!

    Carmen Miranda – “Mamãe Eu Quero Mamar”
    https://youtu.be/ZWgdHJzYrEM

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