Atocha*
* Publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 7 de Dezembro de 2007
1. Madrid. Chega-se ao Memorial de Atocha através da estação. Uma sala azul, grande, redonda. A luz entra por uma cúpula de vidro. Onze metros de altura de vidro. 11M. No vidro, uma espiral de mensagens. Eis uma delas, só uma: “Maldita mochila maldita por siempre”. 2004. 11 de Março. 191 mortos. 2050 feridos. Mochilas de morte. Malditas.
A lavagem aos cérebros dos futuros mártires nunca pára nas madrassas do Paquistão e nas madrassas electrónicas dos sites fundamentalistas. Um dos países europeus em que esses sites são mais acedidos é Espanha. Milhares de câmaras de vídeo filmam, agora, todas as ruas de Madrid.
2. Merece ser conhecida a defesa que a psicóloga Wafa Sultan tem feito dos valores de uma sociedade aberta e laica. Pode ser vista a sua coragem e desassombro, a falar em árabe para árabes, na Al Jazeera. Basta pesquisar o seu nome no YouTube.
Deixo aqui algumas das suas ideias: “O choque que se vê no mundo é um choque entre uma mentalidade que pertence aos tempos medievais e uma mentalidade que pertence ao séc. XXI; é um choque entre aqueles que tratam as mulheres como animais e aqueles que as tratam como seres humanos.
Eu não sou uma cristã, uma muçulmana ou uma judia. Sou um ser humano laico. Não creio no sobrenatural mas respeito o direito dos outros em acreditar.
Não vimos nem um só judeu a fazer-se explodir num restaurante alemão.
Os muçulmanos transformaram três estátuas de Buda em cascalho. Não vimos nem um só budista a queimar uma mesquita, matar um muçulmano ou incendiar uma embaixada.
Só os muçulmanos defendem as suas crenças a queimar igrejas. Isto não vai dar resultado nenhum.”
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“O choque que se vê no mundo não é um choque entre civilizações, é um choque entre dois opostos, um choque entre duas eras, um choque entre uma mentalidade que pertence aos tempos medievais e uma mentalidade que pertence ao Séc. XXI, é um choque entre a civilização e o retrocesso, entre o civilizado e o primitivo, entre a barbárie e a racionalidade, entre a liberdade e a opressão, entre a democracia e a ditadura, é um choque entre os direitos do homem de um lado e a violação desses direitos do outro, é um choque entre aqueles que tratam as mulheres como animais e aqueles que as tratam como seres humanos. O que vemos hoje não é um choque de civilizações. As civilizações não se agridem, elas rivalizam.
Os muçulmanos é que iniciaram o choque de civilizações. O profeta do Islão disse: “Eu recebi a ordem de combater as gentes até elas acreditarem em Alá e no seu mensageiro.” Quando os muçulmanos dividem os povos entre muçulmanos e não muçulmanos, e apelam ao combate até que os outros partilhem das suas crenças, eles declararam este choque, eles começaram esta guerra. Para acabar esta guerra, eles devem reexaminar os seus textos e os seus planos islâmicos, que estão cheios de apelos ao takfir (acusações de descrença)
(…)
Qual a civilização da superfície da terra que se permite chamar os outros por nomes que eles não escolheram para si próprios?
Quem vos disse que eles são a “gente do livro”?
Eles não são gente de um só livro. Eles são gente de muitos livros. Todos os livros científicos que vocês têm são deles, fruto do pensamento livre e criativo.
Quem vos deu o direito de chamá-los “aqueles que incorrem na ira de Alá” e depois virem aqui dizer que a vossa religião vos ordena de vos abster de ofender as crenças dos outros?
Eu não sou uma cristã, uma muçulmana ou uma judia. Sou um ser humano laico. Não creio no sobrenatural mas respeito o direito dos outros em acreditar.
Irmão, tu podes acreditar em pedras [referência aos rituais mécquois [ver http://fr.wikipedia.org/wiki/Abu_Sufyan_ibn_Harb] desde que não me atires com elas. Mas as crenças dos outros não te dizem respeito. Que creiam que o Messias é Deus, filho de Maria. Deixa as pessoas ter as suas crenças.
Os Judeus saíram da tragédia, [o holocausto] e fizeram com que o mundo os respeitasse através do seu conhecimento e não através do terror, através do seu trabalho e não através das lamentações e dos gritos.
A humanidade deve a maior parte das descobertas científicas do séc. XIX e XX a cientistas judeus.
Quinze milhões de pessoas espalhadas pelo mundo uniram-se e asseguraram os seus direitos através do seu trabalho e do seu conhecimento.
Não vimos nem um só judeu a fazer-se explodir num restaurante alemão.
Não vimos nem um só judeu destruir uma igreja.
Não vimos nem um só judeu a protestar matando pessoas.
Os muçulmanos transformaram três estátuas de Buda em cascalho.
Não vimos nem um só budista a queimar uma mesquita, matar um muçulmano ou incendiar uma embaixada.
Só os muçulmanos defendem as suas crenças a queimar igrejas.
Isto não vai dar resultado nenhum.
Os muçulmanos devem perguntar-se o que podem fazer pela humanidade antes de exigirem que a humanidade os respeite.”
1. Madrid. Chega-se ao Memorial de Atocha através da estação. Uma sala azul, grande, redonda. A luz entra por uma cúpula de vidro. Onze metros de altura de vidro. 11M. No vidro, uma espiral de mensagens. Eis uma delas, só uma: “Maldita mochila maldita por siempre”. 2004. 11 de Março. 191 mortos. 2050 feridos. Mochilas de morte. Malditas.
A lavagem aos cérebros dos futuros mártires nunca pára nas madrassas do Paquistão e nas madrassas electrónicas dos sites fundamentalistas. Um dos países europeus em que esses sites são mais acedidos é Espanha. Milhares de câmaras de vídeo filmam, agora, todas as ruas de Madrid.
2. Merece ser conhecida a defesa que a psicóloga Wafa Sultan tem feito dos valores de uma sociedade aberta e laica. Pode ser vista a sua coragem e desassombro, a falar em árabe para árabes, na Al Jazeera. Basta pesquisar o seu nome no YouTube.
Deixo aqui algumas das suas ideias: “O choque que se vê no mundo é um choque entre uma mentalidade que pertence aos tempos medievais e uma mentalidade que pertence ao séc. XXI; é um choque entre aqueles que tratam as mulheres como animais e aqueles que as tratam como seres humanos.
Eu não sou uma cristã, uma muçulmana ou uma judia. Sou um ser humano laico. Não creio no sobrenatural mas respeito o direito dos outros em acreditar.
Não vimos nem um só judeu a fazer-se explodir num restaurante alemão.
Os muçulmanos transformaram três estátuas de Buda em cascalho. Não vimos nem um só budista a queimar uma mesquita, matar um muçulmano ou incendiar uma embaixada.
Só os muçulmanos defendem as suas crenças a queimar igrejas. Isto não vai dar resultado nenhum.”
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“O choque que se vê no mundo não é um choque entre civilizações, é um choque entre dois opostos, um choque entre duas eras, um choque entre uma mentalidade que pertence aos tempos medievais e uma mentalidade que pertence ao Séc. XXI, é um choque entre a civilização e o retrocesso, entre o civilizado e o primitivo, entre a barbárie e a racionalidade, entre a liberdade e a opressão, entre a democracia e a ditadura, é um choque entre os direitos do homem de um lado e a violação desses direitos do outro, é um choque entre aqueles que tratam as mulheres como animais e aqueles que as tratam como seres humanos. O que vemos hoje não é um choque de civilizações. As civilizações não se agridem, elas rivalizam.
Os muçulmanos é que iniciaram o choque de civilizações. O profeta do Islão disse: “Eu recebi a ordem de combater as gentes até elas acreditarem em Alá e no seu mensageiro.” Quando os muçulmanos dividem os povos entre muçulmanos e não muçulmanos, e apelam ao combate até que os outros partilhem das suas crenças, eles declararam este choque, eles começaram esta guerra. Para acabar esta guerra, eles devem reexaminar os seus textos e os seus planos islâmicos, que estão cheios de apelos ao takfir (acusações de descrença)
(…)
Qual a civilização da superfície da terra que se permite chamar os outros por nomes que eles não escolheram para si próprios?
Quem vos disse que eles são a “gente do livro”?
Eles não são gente de um só livro. Eles são gente de muitos livros. Todos os livros científicos que vocês têm são deles, fruto do pensamento livre e criativo.
Quem vos deu o direito de chamá-los “aqueles que incorrem na ira de Alá” e depois virem aqui dizer que a vossa religião vos ordena de vos abster de ofender as crenças dos outros?
Eu não sou uma cristã, uma muçulmana ou uma judia. Sou um ser humano laico. Não creio no sobrenatural mas respeito o direito dos outros em acreditar.
Irmão, tu podes acreditar em pedras [referência aos rituais mécquois [ver http://fr.wikipedia.org/wiki/Abu_Sufyan_ibn_Harb] desde que não me atires com elas. Mas as crenças dos outros não te dizem respeito. Que creiam que o Messias é Deus, filho de Maria. Deixa as pessoas ter as suas crenças.
Os Judeus saíram da tragédia, [o holocausto] e fizeram com que o mundo os respeitasse através do seu conhecimento e não através do terror, através do seu trabalho e não através das lamentações e dos gritos.
A humanidade deve a maior parte das descobertas científicas do séc. XIX e XX a cientistas judeus.
Quinze milhões de pessoas espalhadas pelo mundo uniram-se e asseguraram os seus direitos através do seu trabalho e do seu conhecimento.
Não vimos nem um só judeu a fazer-se explodir num restaurante alemão.
Não vimos nem um só judeu destruir uma igreja.
Não vimos nem um só judeu a protestar matando pessoas.
Os muçulmanos transformaram três estátuas de Buda em cascalho.
Não vimos nem um só budista a queimar uma mesquita, matar um muçulmano ou incendiar uma embaixada.
Só os muçulmanos defendem as suas crenças a queimar igrejas.
Isto não vai dar resultado nenhum.
Os muçulmanos devem perguntar-se o que podem fazer pela humanidade antes de exigirem que a humanidade os respeite.”
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