Dito no Jornal do Centro em 2017*

* Publicado hoje no Jornal do Centro






20 de Janeiro
António Almeida Henriques, (…) se é para dar tanto poder ao seu adjunto Jorge Sobrado, se é para o pôr a tomar decisões à solta (...), é mais transparente para com os viseenses pô-lo na lista como candidato a vice-presidente.

14 de Abril
Estás despedido, Jeroen Dijssemlbloem, meu safadote. Daqui a uns meses vais ter muito tempo livre para gastares em gajas e vinho verde.

26 de Maio
A terceira república já teve três idas ao bloco operatório: em 1977 levou uma transfusão de 1% do PIB; em 1983, transfusão de 2,8%; e, em 2011, foi uma brutalidade: 45,5% do PIB. Haja agora juízo para se evitar a quarta.

9 de Junho
Se não tivéssemos o tratado orçamental, os governos gastavam sem rei nem roque, roubando, ainda mais, futuro aos nossos filhos e aos nossos netos.

16 de Junho
Aquilo a que se chama “política no feminino” é um gambozino. Não existe. Há boas e más ideias políticas. Tanto nos homens como nas mulheres. Há boas e más práticas políticas. Tanto nos homens como nas mulheres. Ponto.

21 de Julho
Os autarcas de todas as cores estão a descarregar neste ano eleitoral doses maciças de “eventos”, os órgãos municipais parecem-se, cada vez mais, com “comissões de festas”.

25 de Agosto 
Há uma guerra entre os marqueteiros da política e um exército à solta, de telemóvel em punho, pronto a transformar qualquer mensagem política num “tesourinho” risível. Não lhe tem faltado matéria-prima.

29 de Setembro
O nosso actual optimismo económico tem três causas directas: o crescimento em toda a “Europa”, o turismo de “escapadinhas” e a forma como a geringonça se “cativou” pelos lindos olhos do tratado orçamental.

20 de Outubro
 Tanto quisemos pôr o estado a dar-nos o céu que ele agora não consegue evitar-nos o inferno. (…) António Costa tem agora que dissipar uma dúvida no espírito dos portugueses — é homem para os tempos difíceis ou só para os tempos fáceis?

1 de Desembro
Para já, o bloco e o PCP vão ser lobos na retórica e cordeiros nas votações no parlamento.

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Leitura para esta selecção de fim-de-ano que depois foram devidamente tesourados para menos de 2000:


Antologia 2017 — (ii)

20Jan
António Almeida Henriques está à vontade.
Tem, contudo, uma decisão estratégica para tomar: se é para dar tanto poder ao seu adjunto Jorge Sobrado, se é para o pôr a tomar decisões à solta (ver o caso da Viseu Marca), é mais transparente para com os viseenses pô-lo na lista como candidato a vice-presidente.

17Fev
(...) a propensão para a opacidade e tolerância perante o negocismo também já infectaram o bloco e o PCP que até já nem com a fossa socrática se incomodam. Só isso explica o voto daquelas ex-virgens púdicas ao lado do PS contra a audição de Armando Vara no inquérito parlamentar sobre a CGD.

17Mar
A seguir ao “para-além-da-troika” de Passos, temos agora o “para-além-do-tratado-orçamental” de Costa. O sr. Moscovici e o sr. Dijsselbloem estão contentes com as cativações de António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa. E assistem, com bonomia, à retórica anti-europeia, para consumo interno, das lideranças bloquistas e comunistas.

31Mar
Apesar de haver várias câmaras falidas, não foram os municípios que puseram a dívida do estado acima dos 130% do PIB, nem foram eles que nos levaram à bancarrota. Foram os governos centralistas de Lisboa, cuja codícia e corrupção “o reino nos despovoa”, tal como Sá de Miranda via o “cheiro da canela” fazer ao país no século XVI.

14Abril
Estás despedido, Jeroen Dijssemlbloem, meu safadote. Daqui a uns meses vais ter muito tempo livre para gastares em gajas e vinho verde. Recomendo-te uma esplanada portuguesa com vista para o mar. Pede um Alvarinho bem fresco a acompanhar um rodovalho.
Infelizmente, Jeroen, como bem sabes, os portugueses gastaram tudo “em mulheres e álcool” e deixaram fechar o Elefante Branco. Mas encontrarás sempre um plano B.

21Abril
quem controla e escrutina a Viseu Marca e o seu gestor Jorge Sobrado? É que este, apesar de não eleito, tem mais poder do que os vereadores e ultimamente, como se viu no Teatro Viriato e agora nesta bazófia, anda com tendência para a asneira.

5Maio
Enquanto os urbanitas euforizam debaixo do azul do céu, as vinhas do Dão imploram por chuva. À falta desta, a câmara de Viseu vai regar cinco quintas com tinta do Festival de Street Art. Apesar de não haver “streets” nas vinhas, espera-se que este festival seja melhor do que o do ano passado.
19Maio
Em 17 de Maio de 2011, fez seis anos esta semana, a troika entrou por cá dentro com um cheque e uma receita amarga. Três duros anos depois, em 17 de Maio de 2014, ela foi-se embora. Desde então, pelo menos para já, tem havido juízo: o défice está controlado e não têm sido repetidas as loucuras que nos levaram ao buraco.

Os maus sentimentos estão fora de moda. Nas redes sociais, onde abundavam gatinhos e ódios, agora em vez de gatinhos há publicações cutchi-cutchi sobre os manos Sobral, em vez de ódios, a saia bem travada da dra. Assunção Cristas.
O país efectua afectos a um ritmo nunca visto.

26Maio
A terceira república já teve três idas ao bloco operatório: em 1977 levou uma transfusão de 1% do PIB; em 1983, transfusão de 2,8%; e, em 2011, foi uma brutalidade: 45,5% do PIB. Haja agora juízo para se evitar a quarta.

9Jun
Se não tivéssemos o TEDH, os usos e costumes dos nossos tribunais danificavam a liberdade de expressão, o oxigénio de qualquer democracia.
Se não tivéssemos o tratado orçamental, os governos gastavam sem rei nem roque, roubando, ainda mais, futuro aos nossos filhos e aos nossos netos.

16Jun
É sabido que a ecologia dentro dos partidos tende a premiar as ovelhas que mais dizem ámen ao chefe de turno, repelindo, perseguindo, ou fazendo desistir quem pensa pela sua cabeça. Esta ecologia é hostil ao mérito e faz com que a vontade colectiva dos partidos não seja construída das bases para a cúpula, mas ao contrário: as decisões importantes tomam-se em cima e aplicam-se em baixo.

aquilo a que se chama “política no feminino” é um gambozino. Não existe. Há boas e más ideias políticas. Tanto nos homens como nas mulheres. Há boas e más práticas políticas. Tanto nos homens como nas mulheres. Ponto.

23Jun
Passou um ano, o “brexit-means-brexit” de May não sai do sítio. Tanto Londres, a poderosa “cidade-estado” sede da City, como o eleitorado cosmopolita e jovem tudo farão para que ele fique mesmo assim. Parado e quedo.

30 Junho
No concelho de Viseu, a candidatura “Fazer por Viseu” (PS) propõe-se ficar com 2,5% do nosso IRS. Já a candidatura “Viseu faz bem” (PSD), no poder, tem ficado com 4%.
Havia um anúncio de um laxante que passava nas televisões a toda a hora, até durante as refeições, que acabava em crescendo com um “E faz você muito bem!” É um slogan apropriado para os cartazes destes “fazedores” com tão pouco respeito pelo nosso dinheiro.

21Jul
(…) os autarcas de todas as cores estão a descarregar neste ano eleitoral doses maciças de “eventos”, os órgãos municipais parecem-se, cada vez mais, com “comissões de festas”.
Como já se devia saber depois da Expo 98 ou do Euro 2004, nada de estrutural ou positivo vem desta azáfama de “eventos”, borliantes ou não, pagos, no todo ou em parte, com o IRS que as câmaras não devolvem aos seus munícipes.

25Ago
O poder local fez um trabalho formidável de infra-estruturação do país, com menos de dez por cento do orçamento de estado. Embora haja algumas câmaras falidas, a dívida global das autarquias não é preocupante e tem vindo a ser diminuída nos últimos anos, ao contrário da dívida do estado central que é o que se vê: mês após mês, upa-upa.
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É que há uma guerra entre os marqueteiros da política e um exército à solta, de telemóvel em punho, pronto a transformar qualquer mensagem política num “tesourinho” risível. Não lhe tem faltado matéria-prima.

22Set
Nada justifica a entrada de informação de raça nas estatísticas oficiais. Essa categorização é racista. Devia, isso sim, era desaparecer do Censos a pergunta sobre religião. É assunto que não deve interessar a um estado laico.

29Set
O nosso actual optimismo económico tem três causas directas: o crescimento em toda a “Europa”, o turismo de “escapadinhas” e a forma como a geringonça se “cativou” pelos lindos olhos do tratado orçamental.
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é uma ironia e um alívio termos um governo apoiado pelo bloco e pelo PCP a esforçar-se por um défice ainda mais “eurogrupista” do que pedia o eurogrupo.

20Out
Tanto quisemos pôr o estado a dar-nos o céu que ele agora não consegue evitar-nos o inferno.
Ora, da sua felicidade tratam as pessoas, a primeira função do estado é evitar-lhes o inferno.
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Como o primeiro-ministro não foi capaz, teve que ser o presidente da república a demitir a ministra e a pedir desculpa pelas vidas ceifadas.
António Costa tem agora que dissipar uma dúvida no espírito dos portugueses — é homem para os tempos difíceis ou só para os tempos fáceis?

17Nov
A administração central, por causa dos cortes (em geringoncês diz-se “cativações”), faz tudo para arranjar dinheiro, tanto aluga o Panteão para jantares de gala, como saca o mais que pode aos municípios (pagamentos a polícias, vencimentos de médicos, água, luz, rendas, ...)
Isto lembra os fractais que se repetem qualquer que seja a escala. Mal a Tesla anunciou que queria abrir uma gigafábrica na Europa, logo começou uma competição entre países a ver quem dá mais contrapartidas àquela multinacional. Mal o governo anuncia que quer abrir um serviço público “na província”, logo começa um “quem-dá-mais” entre municípios vizinhos. Estes fractais são fatais para os mais pequenos, entenda-se, o interior.

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As marcas traumáticas dos incêndios de 15 e 16 de Outubro vão perdurar no tempo. Ajudemo-nos uns aos outros e tenhamos tolerância zero com quem quiser fazer politiquice com esta desgraça.

1Dez
Para já, o bloco e o PCP vão ser lobos na retórica e cordeiros nas votações no parlamento.
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No concelho de Viseu, nas últimas autárquicas, no bloco, o mano deu lugar à mana na assembleia municipal; no PS, o marido foi a votos para a câmara, a esposa para a assembleia; assembleia onde se sentam também manos de ex e filhos de ex.
Entretanto, um irmão do número dois da distrital socialista quer ir para número um da concelhia.
Ninguém estranha tanto familismo?
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22Dez
O “Viseu Cultura”, o novo programa de apoio à actividade cultural da câmara de Viseu, diz querer “gerar um mercado” e “sustentabilidade” na oferta cultural no concelho.
É um objectivo sensato já que a multiplicação de eventos borliantes em Viseu está a criar rotinas nas pessoas que não são sustentáveis. Basta fazer notar que o futuro Viseu Arena, para ser viável, vai precisar de público que não estranhe ter de pagar por um espectáculo.


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