a rectidão da água; o crescimento

Fotografia de Anoek Steketee

a rectidão da água; o crescimento
das avenidas, ao anoitecer, sob a nua
vibração dos faróis;


o laço, mesmo, das portas só
entreabertas, onde a luz
silenciosa se demora;


são memórias, decerto, de um anterior
esquecimento, uma inocente
fadiga das coisas,


como os corpos calados, abandonados
na véspera da guerra, o teu
jeito para


o desalinho branco das palavras,
altas as
asas de nuvens no clarão do céu


em vão rigor abrindo
o destinado enigma: assim
desconhecer-te cada dia mais


ausente de recados e colheitas,
em assustado bosque, em sombra
clareira,


ao risco dos rios frívolos descendo
seixos polidos, desinscritos,
imóveis movendo


a luz do dia;
a margem recortada, aonde vivem
ausentes e seguros, os luminosos


animais do inverno;
assim são na verdade os muros claros;
assim respira o tempo, a terra intensa.
                                                                                            António Franco Alexandre

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