O bloco central


      No nosso politiquês, chama-se bloco central à massa de votos e de interesses que gravita à volta dos dois maiores partidos portugueses: o PS e o PSD.
     São eles que aplicam os fundos comunitários, são eles que destinam as receitas das privatizações, são eles que tordesilham os lugares nas empresas públicas e as conexões à advocacia do regime, são deles as elites que cirandam dos negócios para a política e da política para os negócios.
     São eles que, mais para baixo nesta cadeia alimentar, tratam das sobras que ficam para os “jobs” dos “boys” e das “girls”.
     O resultado não é brilhante. Portugal, em 2011, está em recessão, à beira da bancarrota, tutelado pelos credores, com um desemprego sem precedentes e com uma emigração recorde de cérebros e talento.
     Eis o histórico da votação no bloco central depois da adesão à “Europa”:
     1987 — 72,4%; 
     1991 — 79,7%; 
     1995 — 77,9%; 
     1999 — 76,4%; 
     2002 — 78,0%; 
     2005 — 73,8%; 
     2009 — 65,7%.
     Como se vê, em 2009 a soma dos votos no PS e no PSD desceu pela primeira vez abaixo dos 70%. As sondagens que têm sido publicadas durante esta lamentável e mentirosa campanha eleitoral parecem apontar, de uma forma consistente, para esta debilidade dos dois partidos: eles estão com intenções de voto à volta dos 35% cada um.
     Ora se os partidos do bloco central continuarem tão empatados nos votos como na fraqueza, ora se é preciso um governo forte para aplicar a terapêutica violenta da Troika, a seguir às eleições do próximo domingo as pressões políticas e dos “interesses” vão ser avassaladoras para que o PS e o PSD juntem os trapinhos. E, então, as clientelas rosa-laranja pouco ou nada deixarão para os Jacintos Leite Capelo Rego  centristas.
     Seria muito irónico que a bem sucedida estratégia "tanto-caso-com-um-como-caso-com-o-outro" do CDS fosse a principal responsável por Paulo Portas ficar fora do matrimónio governamental.

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