Da concisão do inglês

     A primeira versão de "Blonde" de Joyce Carol Oates tinha 1400 páginas. "Blonde" é Norma Jeane Baker, mais conhecida por "Marilyn Monroe"
     A autora teve que tesourar a primeira versão daquele romance, de 1400 páginas para 700. Ela explicou porquê numa entrevista:
      «(...) um romance desse tamanho levanta alguns problemas. Os direitos têm que ser vendidos, como diz o meu agente, para "quase todas as línguas", (...) o que significa, a ser traduzido, o livro aumentará de volume e poderá atingir cerca de mais um terço, senão o dobro, do tamanho.»
     Isto que  JCO afirma é congruente. O inglês é uma língua particularmente concisa, "económica".
     "O" texto central da política portuguesa — o "Memorando de Entendimento sobre as Condicionalidades de Política Económica" imposto pela Troika — teve durante muito tempo só versão em inglês. Mas agora já se pode comparar com a versão oficial portuguesa, embora esta na língua de Camões não seja a que conta, basta ler o aviso com que começa:
     «A presente versão em português corresponde a uma tradução do documento original e é da exclusiva responsabilidade do Governo português. Em caso de eventual divergência entre a versão inglesa e a portuguesa, prevalece a versão inglesa.»
     Indo ao ponto: a versão original do memorando tem 33,1 páginas e a versão portuguesa tem 34,6 páginas.
     Como se vê, pelo menos no linguajar burocrático, um texto em português é em média ±4,5% maior do que em inglês.
     O que significa que o "Blonde" em português há-de ser um tijolo de ±730 páginas.
     A leitura de "Blonde", de qualquer forma, é bem menos deprimente que o texto imposto pela Troika, texto que vai ser de facto o programa do próximo governo deste pobre país tutelado.
     País que vai andar por aí mais uns dias na campanha eleitoral mais mentirosa e lamentável desta terceira república.

* Este post foi reescrito às 19:45.

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