Rábulas e presidenciais*

* Hoje no Jornal do Centro


1. Há largos meses que não faço aqui análise política. A razão é simples: não tem acontecido nada de especial nessa frente. Por vezes, a temperatura amornece um pouco com um ou outro assunto identitário mas arrefece logo a seguir.


Como em todos os outonos, o Bloco de Esquerda lá está outra vez com o seu “agarrem-me-senão-eu-mato-o-orçamento”. Rábulas. Deram para umas gargalhadas no último programa de Ricardo Araújo Pereira. Mas só para isso. O orçamento vai passar.

Depois, vem o Natal e a passagem de ano. A seguir são as eleições presidenciais. Olhemos para elas.

 

2. A presidência da república esteve vinte anos à esquerda e vai estar vinte anos à direita depois do segundo mandato de Marcelo. São muito fáceis de resumir estas décadas presidenciais:

— entre 1986 e 1991, preocupado com a sua reeleição, o PR Soares fez os fretes todos ao PM Cavaco; a seguir, no segundo mandato, o PR Soares infernizou a vida do PM Cavaco;

— entre 1996 e 2001, preocupado com a sua reeleição, o PR Sampaio fez os fretes todos ao PM Guterres; a seguir, no segundo mandato, o PR Sampaio infernizou a vida do PM Durão Barroso e correu com o “menino guerreiro”;

— entre 2006 e 2011, preocupado com a sua reeleição, o PR Cavaco fez os fretes todos ao PM Sócrates; a seguir, no segundo mandato, o PR Cavaco correu com o PM Sócrates, levou o PM Passos ao colo e exigiu papéis assinados à Geringonça; 

— entre 2016 e 2021, preocupado com a sua reeleição, o PR Marcelo está a fazer os fretes todos ao PM Costa. 


Editada a partir daqui    
Quando Marcelo não reconduziu Joana Marques Vidal, escrevi aqui o seguinte: “nos primeiros cinco anos, tem havido sempre em Belém um sacristão do primeiro-ministro e só nos segundos cinco um presidente. Para evitarmos a fase sacristã, há que constitucionalizar um mandato presidencial único de sete anos.” 

Isso era o ideal mas não vai acontecer. Já não falta muito para os segundos cinco anos de Marcelo. A partir de 9 de Março de 2021, vamos deixar de ter um sacristão e passar a ter um presidente. Que, como se sabe, gosta tanto de intriga como de vichyssoise.

É por todo este histórico que a direita, apesar de zangada com Marcelo, se for inteligente vota nele. E que a esquerda socialista, apesar de contentíssima com Marcelo, se for inteligente vota Ana Gomes.

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