2008 *
* Publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 22 de outubro de 2010
O ano de 2008 foi um susto.
No primeiro semestre o preço das matérias primas disparou. Cá, por causa do aumento do gasóleo, uma greve dos camionistas quase esvaziou os supermercados e fez regressar o açambarcamento de bens. Esteve-se a milímetros do caos.
Em Setembro, faliu o Lehman Brothers e deu-se um dominó desgraçado no sistema financeiro mundial. Por causa da gatunagem no BPN, diminuiu a confiança na nossa banca e, naquele outono, muitos milhões de euros foram para “debaixo do colchão”. Numa tarde de sábado, quando o multibanco avariou durante umas horas, sentiu-se um calafrio.
Referi-me a estes acontecimentos na última crónica daquele ano. Contudo, houve um perigo muito maior para o mundo que só entendi agora ao ler “A Era do Imprevisível”, de Joshua Cooper Ramo.
No verão de 2008 o programador informático Dan Kaminsky, um dos homens que mais sabe de internet no mundo, descobriu um falhanço fatal na forma como os servidores de DNS guardavam informação vital para o funcionamento da rede. DNS são os Domain Name Services – onde se guardam os “endereços” que permitem que as máquinas se encontrem umas às outras para trocarem informação. Havia um “buraco” na segurança da infra-estrutura mas não podia ser dado o alarme.
É que, se houvesse uma fuga de informação, os piratas informáticos faziam uma razia no sistema financeiro e não só. A net colapsava.
No dia 8 de Julho de 2008 começou a ser introduzido um fragmento de código para “remendar” o buraco dos DNS e ao fim dessa tarde “metade dos servidores da Net estavam reparados. Duas semanas depois eram 85% e nenhum hacker encontrara o buraco”.
Tudo foi feito sem conhecimento dos governos. Os estados claudicam num mundo ligado em rede e de poderes difusos. É por isso, como se explica em “A Era do Imprevisível”, que o “Golias” Israel foi derrotado pelo “David” Hezbollah.
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