Contas de cabeça*

* Hoje no Jornal do Centro


1. Há quatro semanas, espalhei-me ao comprido quando previ aqui cheio de certezas: “António Costa e Rui Rio não querem a recondução de Joana Marques Vidal. Paciência. Vão ter que a gramar.”


Editada a partir daqui
Contra o expectável, Marcelo Rebelo de Sousa não quis tirar uma selfie com a popularíssima procuradora, a primeira que começou de facto a incomodar gente importante. Marcelo, o poderoso Marcelo, borregou. Porque terá sido?

Há teorias conspirativas e teorias psi para este falhanço presidencial: que Marcelo não perdoa a JMV ter indiciado o seu amigo Ricardo Salgado, que se irritou com aquele “irritante” processo ao ex-vice angolano, que ele é mais fraco psicologicamente do que Costa.

Não creio que tenha sido nada disso. Marcelo está nos primeiros cinco anos de uma presidência de dez. Nos primeiros cinco, os presidentes só pensam na sua reeleição e fazem tudo o que os primeiros-ministros querem. Soares deixou o PM Cavaco fazer tudo, Cavaco deixou o PM Sócrates fazer tudo (até uma bancarrota), Marcelo está a deixar o PM Costa fazer tudo.

Marcelo, o popular Marcelo, tem uma meta para a sua reeleição — ultrapassar os 70,35% de Mário Soares em 1991. Para tal conseguir, precisa que Costa o apoie e não apresente nenhum candidato socialista em 2021, da mesma maneira como Cavaco, então, prescindiu de um candidato laranja e apoiou Soares.

Foram estas contas de cabeça que despediram Joana Marques Vidal. Nos primeiros cinco anos, tem havido sempre em Belém um sacristão do primeiro-ministro e só nos segundos cinco um presidente. Para evitarmos a fase sacristã, há que constitucionalizar um mandato presidencial único de sete anos.

2. Em Singapura, a Huawei chegou junto de uma fila de compradores para o ultimíssimo iPhone e deu-lhes uma caixa com uma bateria externa onde se podia ler: “Aqui está um powerbank. Você vai precisar dele.”

Um dia destes, Xi Jinping, num gesto magnânimo, entrega uma caixa destas a Donald Trump.

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