Todo o pelado vira relvado*

* Hoje no Jornal do Centro
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1. Deambulando pelas nossas lindas e despovoadas terras beiroas, encontramos, ao abandono e em sítios desusados, muitos campos de futebol e parques de merendas.

Os campos de futebol de que falo são antigos, costumam estar prantados na margem de um rio ou num planalto eólico, longe de casas, e percebe-se que há décadas que não são pisoteados por nenhuma chuteira. São de um tempo em que os autarcas ainda não tinham descoberto o cimento dos polidesportivos, com rede altaneira à volta, junto às aldeias ou aos bairros.

Quando reparo nas balizas ferrugentas de um campo destes, agora só útil a rebanhos pastadores, costumo parar para o fotografar. Já publiquei nas redes sociais algumas dessas fotografias com a seguinte legenda: 
Com o tempo, todo o pelado vira relvado

Os parques de merendas são de um tempo posterior. São uma obra pública barata, jeitosa para inaugurar pelos senhores presidentes da junta em ano eleitoral. Já estiveram mais na moda — agora o que está a dar é passadiços e percursos pedestres que dão resposta, pelo menos para já, a uma evidente procura das pessoas.

Já os parques de merendas, alguns equipados até com churrasqueiras, nunca tiveram grande uso público. Passados os primeiros tempos de novidade, naqueles amesendados de granito nunca mais pastéis de bacalhau, nunca mais coxas de frango. E, desgraça das desgraças, nunca mais tintol. Só abandono. Musgo. Líquenes. E, uns senhores presidentes da junta depois, giestas e silvas.

Com o tempo, tudo vira mato.

2. Ora, como os desgraçados incêndios de 2017 nos mostraram, o mato mata. Por isso, o governo impõe que ele seja limpo à volta das casas até 15 de Março.

Problema: este prazo é estúpido. Cortado tão cedo ele torna a crescer outra vez antes que chegue a época dos incêndios.

Este ano, por causa da Covid-19, o prazo foi prolongado até ao fim de Maio. Foi uma decisão sensata. A peste que se vá de vez. E o novo prazo que fique.

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