Poema do gato

Fotografia de Spencer Davis


Não sei fazer poema de gato
(ou de carteiro, de conversa boa, bombom de cupuaçu,
já que estamos neste assunto).
Não é do meu feitio
recender na língua o gosto da bala de coco
que um amor teu te deu,
sabe-se lá quando, embrulhada em papel sabe-se lá o quê.
Não que não me importem teus calores públicos
– veja bem –
ou tuas alegrias
de praça de alimentação.
É que talvez me faltem papilas de universalidade;
................ estou prestes a dizer de alergias.
É que é de desconfiar, o poema
pisando manso-mansinho,
mais perto cada vez mais
hipoalergénico,
largando pelos de mentira,
ronronando pelaí,
enquanto o mundo espirra
ou finge que faz carinho,
sem encostar.
Assim.
Victor Heringer
(Rio de Janeiro, 1988 - 2018)




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