Contar arroz *
* Hoje no online do Jornal do Centro
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Hoje trago para aqui uma história que, nestes desgraçados dias que estamos a viver, deve ter vindo à lembrança de muita gente quando começaram a circular nas redes sociais piadolas que nos punham, com a paciência ociosa da quarentena, a “contar” o número de grãos de vários pacotes de arroz.
Há 1500 anos, o inventor do xadrez foi apresentar aquele jogo ao Imperador da Índia. Este ficou fascinado com as 32 peças a moverem-se nas 64 casas do tabuleiro e perguntou ao homem:
«O que queres de recompensa por teres inventado uma coisa tão bela?»
«Sua Majestade, peço que mande pôr um único grão de arroz no primeiro quadrado do tabuleiro, dois no segundo, quatro no terceiro, e assim sucessivamente: que cada quadrado receba o dobro de grãos que recebeu o anterior.»
O magnífico Imperador achou que o homem estava a pedir pouco, mas lá ordenou que fossem à tulha buscar o cereal: 1 — 2 — 4 — 8 — 16 — 32 — 64 — … — … — 262144 — 524288 — … — … — 1073741824 — 2147483648 — …
Aquele pedido daquele inteligente homem, afinal, era tudo menos modesto. Antes de ter chegado às 32 casas, correspondentes a metade do tabuleiro, já estavam esgotadas as reservas de arroz do Império.
A nossa lenda, chegada aqui, bifurca em duas versões: numa o Imperador abdica para o inventor do xadrez, noutra o Imperador manda cortar a cabeça que, há um milénio e meio, já sabia o que era um crescimento exponencial. Coisa que a maioria dos humanos só está agora a descobrir com a escalada trágica da Covid-19.
Olhemos agora um modelo partilhado por Ludwig Krippahl no seu Facebook:
— em Portugal, em 16 de Março, as infecções estavam a duplicar a cada 1,9 dias;
— uma semana depois, a 23, duplicavam a cada 2,9 dias;
— no dia 26, em que escrevo este Olho de Gato, a duplicação está a acontecer a cada 3,4 dias.
A quarentena parece estar a dar-nos o que mais precisamos agora: tempo. Continuemos, o mais possível, em casa. Por exemplo, a jogar xadrez.
Esta peste há-de passar.
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Hoje trago para aqui uma história que, nestes desgraçados dias que estamos a viver, deve ter vindo à lembrança de muita gente quando começaram a circular nas redes sociais piadolas que nos punham, com a paciência ociosa da quarentena, a “contar” o número de grãos de vários pacotes de arroz.
Uma graçola global que há-de também estar a ser partilhada em força agora na Índia, cujos 1,3 mil milhões de habitantes estão em quarentena por três semanas |
Há 1500 anos, o inventor do xadrez foi apresentar aquele jogo ao Imperador da Índia. Este ficou fascinado com as 32 peças a moverem-se nas 64 casas do tabuleiro e perguntou ao homem:
«O que queres de recompensa por teres inventado uma coisa tão bela?»
«Sua Majestade, peço que mande pôr um único grão de arroz no primeiro quadrado do tabuleiro, dois no segundo, quatro no terceiro, e assim sucessivamente: que cada quadrado receba o dobro de grãos que recebeu o anterior.»
O magnífico Imperador achou que o homem estava a pedir pouco, mas lá ordenou que fossem à tulha buscar o cereal: 1 — 2 — 4 — 8 — 16 — 32 — 64 — … — … — 262144 — 524288 — … — … — 1073741824 — 2147483648 — …
Aquele pedido daquele inteligente homem, afinal, era tudo menos modesto. Antes de ter chegado às 32 casas, correspondentes a metade do tabuleiro, já estavam esgotadas as reservas de arroz do Império.
A nossa lenda, chegada aqui, bifurca em duas versões: numa o Imperador abdica para o inventor do xadrez, noutra o Imperador manda cortar a cabeça que, há um milénio e meio, já sabia o que era um crescimento exponencial. Coisa que a maioria dos humanos só está agora a descobrir com a escalada trágica da Covid-19.
Olhemos agora um modelo partilhado por Ludwig Krippahl no seu Facebook:
— em Portugal, em 16 de Março, as infecções estavam a duplicar a cada 1,9 dias;
— uma semana depois, a 23, duplicavam a cada 2,9 dias;
— no dia 26, em que escrevo este Olho de Gato, a duplicação está a acontecer a cada 3,4 dias.
A quarentena parece estar a dar-nos o que mais precisamos agora: tempo. Continuemos, o mais possível, em casa. Por exemplo, a jogar xadrez.
Esta peste há-de passar.
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