Schadenfreude*

* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 19 de Dezembro de 2008


1. Schadenfreude é uma palavra alemã sem equivalente em português. Schadenfreude não é a mesma coisa que inveja, embora haja quem confunda.


Daqui

Schadenfreude é a felicidade perante a infelicidade alheia. Inveja é a infelicidade perante a felicidade alheia.


Todos os governos usam a schadenfreude, especialmente em tempos de vacas magras. Quando os tempos são de tirar e não de dar, os governos escolhem alvos específicos. Começam por bater nos privilégios reais ou imaginários do grupo A, e a maioria fica toda contente. Depois dão uma sova nos privilégios reais ou imaginários do grupo B, e a maioria sorri, e o grupo A junta-se a esse contentamento. Depois é a vez do grupo C, do D, e por aí fora…


A schadenfreude floresce com facilidade. Não há muito tempo, viu-se em Portugal um ataque aos “privilégios” dos “deficientes privilegiados”. Até isso pegou.


2. Quando se passa da fase do tirar para a fase do dar, a schadenfreude cede o seu lugar à inveja.


Os nossos banqueiros são muito invejados. Depois de passarem anos a arredondarem-nos os juros para cima, preparam-se agora para nos porem os cofres públicos para baixo.


O tratamento prestado ao Banco Privado Português, o banco dos ricos, causou inveja. Muita inveja. Um dia o BPP não causava risco sistémico e era só um problema de meia dúzia de milionários. No dia seguinte, o mesmo banco custava 450 milhões de euros em avales públicos.

As pessoas ficaram infelizes com a felicidade do sr. Rendeiro, do sr. Saviotti, do sr. Balsemão e do sr. Júdice.

A schadenfreude bate mais nos de baixo e, por isso, é boa para os governos.

A inveja bate mais nos de cima e, por isso, é má para os governos.


No dossier BPP é melhor Sócrates pôr as barbas de molho…

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