O som que importa
volto à cegueira a reflexão sonora
há um lugar incerto onde aconteço
vou pela areia liminar de inverno
mexendo tão somente os vocativos
atei o vento à estaca de madeira
senhor de esquinas lâminas de terra
e sonhei ser ateu e a ingratidão
descia na colina as redes de água
não vi não vejo os muros na brancura
os olhos que inventavam o aroma
só pouco a pouco afasto das palavras
o som que importa
pobre de quem ouviu e não entende
pobre quem entendeu e já não ouve
António Franco Alexandre
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