Memória

Fotografia de Kal Loftus

Refulge por dentro o dezembrado verão na carne, a infância à baila, um salto [momento fotográfico] sobre a polpa das nuvens e a queda quase/quase livre não fosse o líquido assobio a emplumar o canto. Ainda que a manhã soletre a breve chuva, eu quero o céu um rosário de estrelas, infindo rosário de estrelas e sóis enrubescidos a esplender por sobre a lembrança do teu rosto, a grácil meninice esculpida, a máscara — quase — rosto que procuro na idade das estátuas derruídas. E assim, antes do embrumecer da vida, estendo-me sobre o varal do meio-dia, a carne bilando na língua do fogo e recolho dos relógios as horas enevoadas com a mesma mão secreta que rouba do tempo o objecto com que te estilizo na memória.
Álvaro Taruma



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