Matraquilhos e cerveja*

 * Hoje no Jornal do Centro

Mal aconteceu a desgraçada morte de Odair Moniz, logo os populistas do Chega e do Bloco de Esquerda avançaram para a frente das câmaras de televisão a deitar gasolina para o fogo.

Seguiram-se noites terríveis que precisam de respostas judiciais (há que prender os vândalos) e precisam de respostas políticas. Foi o que fez Pedro Nuno Santos, no início desta semana, ao ir a vários bairros de Lisboa dialogar com os moradores. Quando o vi com Isaltino Morais a jogar matraquilhos num bairro de Oeiras lembrei-me da forma como, uma vez, Barack Obama arrefeceu um momento de tensão racial nos EUA.

Henry Louis Gates Jr., um professor negro de Harvard, com dezenas de livros e documentários sobre história dos negros, já era uma celebridade quando, no dia 16 de Julho de 2009, foi preso à porta de sua casa, em Cambridge, Massachusetts.

A história foi assim: chegado de uma viagem de avião, o homem apanhou um táxi guiado por um negro para sua casa. Chegado lá, a porta principal da casa encravou, pelo que Henry teve que entrar pelas traseiras. Aquelas manobras de dois negros junto a uma mansão fizeram com que um vizinho, desconfiado, ligasse para a polícia. Quando o sargento James Crowley chegou, o taxista já tinha ido embora. O agente tocou à campainha e, ao ver um negro e umas malas na entrada, avaliou que estava perante um ladrão, ordenou a Gates que saísse de casa, o que ele recusou. Houve um confronto e o professor foi preso e algemado.

Como é fácil de perceber, esta detenção de uma celebridade afro-americana desencadeou um enorme tititi. Obama, que ainda só tinha meio ano de Casa Branca, perguntado sobre o caso, disse que a polícia “agiu estupidamente”. Foram umas declarações estúpidas, muito mal recebidas. Dando-se conta que tinha posto a pata na poça, Obama organizou na Casa Branca aquilo que ficou conhecido como a “Cimeira da Cerveja”.

Há fotografias a mostrarem, à roda de uma mesa branca com quatro canecas e amendoins, Barack Obama, Joe Biden, Henry Louis Gates Jr. e o sargento James Crowley em amena cavaqueira. Entre goles de cerveja fresquinha, o assunto ficou sanado. Não foi preciso passarem aos matraquilhos.


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