Aldrabões à nossa volta*
* Hoje no Jornal do Centro, na bancas e aqui
Começou o julgamento do caso BES/GES.
Fotografia Lusa (editada a partir daqui) |
Basta vermos a forma debilitada como caminha agora Ricardo Salgado, o banqueiro que já foi o DDT, o Dono-Disto-Tudo, para percebermos que, mais uma vez, a nossa justiça chega tarde de mais. Ricardo Salgado e José “Prescrito” Sócrates, o patrão e o mordomo da bancarrota de 2011, não vão ser responsabilizados pelo sofrimento que causaram ao país.
Como a justiça em Portugal é forte com os fracos e fraca com os fortes, façamos, ao menos, um exercício de memória.
No dia 7 de Novembro de 2013, Ricardo Salgado deu início a mais uma sessão do Conselho Superior do Grupo Espírito Santo com a recomendação do costume: “ia sugerir que deixássemos os telefones fora”. O assunto era polposo: o negócio dos submarinos. A ideia do DDT era que aquela conversa entre os cinco clãs do grupo ficasse dentro daquelas quatro paredes. Não ficou. Um dos nove “espíritos santos” presentes tinha um gravador no bolso e o audio acabou transmitido pela TVI.
O DDT começou por explicar que, “em princípio”, o processo dos submarinos ia “ser arquivado”, que aquele negócio da compra do Arpão e do Tridente tinha sido uma “operação pontual” sugerida por três figurões, que o divino espírito santo tinha organizado o leasing com o Credit Suisse, que as comissões do negócio foram de 30 milhões, dos quais 2 milhões foram logo descontados por causa da concorrência de uns franceses chatos, que sobraram 28 milhões, que depois houve “encargos com advogados e mais não sei o quê”, que os três figurões garantiram ao DDT não terem “pago nada a ministros”, que sobraram 20 milhões, dos quais “deram 5 a nós” (aos espíritos santos) e “eles guardaram 15” (os três sujeitos) e, retórico e jesuítico, o DDT concedeu aos parentes “todo o direito de perguntar como é que aqueles três tipos receberam 15 milhões”, mas que os tais “três tipos” juraram que havia “uma parte” que não era “para eles” e que essa parte tinha de “ser entregue a alguém num determinado dia”.
E é a meio daquela conversa sumarenta, facilmente achável no YouTube, que Ricardo Salgado se sai com esta inesquecível filigrana oftalmológica: “hoje em dia só vejo aldrabões à nossa volta”.
Que o digam os lesados do BES.
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