Pirosices *
* Publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 29 de Junho de 2012
Carlos Magno, o presidente da ERC, foi à SIC e caracterizou muito bem, e em poucas palavras, o que se passa nos nossos meios de comunicação social: «vivemos num país onde se proletarizaram os jornalistas e se profissionalizaram as fontes».
Isso é uma verdade visível a olho nu. Muitos jornalistas, com maior ou menor relutância, acabam por ter de trabalhar em assessoria de imprensa e/ou relações públicas. Esses jornalistas, ao serem forçados pelas circunstâncias da vida a deixarem de ser jornalistas, passam logo a ser melhor pagos.
Uma parte deste trabalho fora das redacções é colocar conteúdos nos media através de canais mais ou menos formais, outra parte é comunicar directamente com o público.
Milhões e milhões de euros de fundos públicos, nacionais e comunitários, têm sido e continuam a ser, como se diz em politiquês, “executados” com este tipo de “comunicação” — isto é, literalmente, têm sido “assassinados”.
São toneladas de publicações mais ou menos kitsch, em papel lustroso, sempre iniciadas com uma “mensagem do senhor presidente” e respectiva fotografia engravatada. Estas produções gráficas, nada baratas, valem zero já que as pessoas tendem a deitar logo aquilo para o lixo.
Já os vídeos institucionais — com os seus planos vistosos, as suas “musiquinhas de elevador” e as suas vozes-off bem timbradas a debitarem textos delicodoces e cheios de lugares-comuns — são excelentes para porem um auditório em estado zen.
Na última sexta-feira, um orgulhoso Guilherme Almeida, vereador da câmara de Viseu, mostrou um destes vídeos, um vídeo sem ficha técnica dedicado à mui nobre e bela cidade de Viseu. Logo a seguir, eu, talvez um tudo nada à bruta, pedi a palavra e chamei àquilo “piroso”.
Agora, mais a frio, diria que o vídeo não é completamente mau. Mas há maneiras mais úteis de aplicar o dinheiro público.
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