Anjo que eu assassino
Só agora experimento espelhar a angústia
numa superfície que reflecte. Não pen-
sei nunca que o Poema fosse permeável.
E só agora me pesa este objecto cor
de pálpebra que me oculta visualmente.
Decifrem-me. Tenho na verdade o corpo dócil.
O verdadeiro equilíbrio do meu corpo prende-se
a fios ténues. Daqui até às hipóteses.
O esquecimento aproxima-se. São os poemas
que me tapam a visão. Com esta espessura
diante de mim eu já não Te vejo. Afasta es-
tas imagens usuais que foram postas
nos meus ombros. A minha liberdade depende
de um acto mágico. Terás de dissolver
este papel. Chamar limpidamente como eu
já ouvi chamares-me. O poema encobre-
-Te. Escrever assim é trespassar-me
até à minha alma dupla no Poema.
Fiama Hasse Pais Brandão
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